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GALÁXIA, ALFA, Brazil
Simples como a brisa, complexo como nós. Nascido em 25/5/1925.

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

CEGUEIRA DO PAI, CUIDADOS DA MÃE (II)

Lírio Verde

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01/05/2011 (Quarta-feira)

Capítulo III

Mas, nessa época, já tinhas começado a levantar, no coração de minha mãe, teu templo e os alicerces de tua santa morada; meu pai não era mais que catecúmeno, recente ainda. Por isso minha mãe perturbou-se com santo temor. Embora eu ainda não fosse batizado, temia que eu seguisse as sendas tortuosas por onde andam os que te voltam as costas, e não o rosto.

Ai de mim! Como me atrevo a dizer que te calavas quando me afastava de ti? Seria verdade que então te calavas comigo? E de quem eram, senão tuas, aquelas palavras que pela boca de minha mãe, tua serva fiel, sussurraste em meus ouvidos, embora nenhuma delas penetrasse em meu coração, para que a cumprisse?

Lembro que um dia me admoestou em segredo, com grande solicitude, que me abstivesse da luxúria e, sobretudo, que não cometesse adultério com a mulher de ninguém. Porém, esses conselhos pareciam-me próprios de mulheres, e eu me envergonharia de segui-los. Mas, na realidade, eram teus, embora eu não o soubesse, e por isso julgava que te calavas, e que era ela quem me falava; e eu te desprezava em tua serva, eu, seu filho, filho de tua serva e servo teu, a ti que não cessavas de me falar pela sua boca.

Mas eu não o sabia, e me precipitava com tanta cegueira, que me envergonhava entre os companheiros de minha idade, de ser menos torpe do que eles. Os ouvia jactar-se de suas maldades, e gloriar-se tanto mais quanto mais infames eram; assim eu gostava de fazer o mal não só pelo prazer, mas ainda por vaidade. O que há de mais digno de vitupério do que o vício? E, contudo, para não ser escarnecido, tornava-me mais viciado e, quando não houvesse cometido pecado que me igualasse aos mais perdidos, fingia ter feito o que não cometera, para que não parecesse mais abjeto quanto mais inocente, e tanto mais vil quanto mais casto.

Eis com que companheiros andava eu pelas praças de Babilônia, revolvendo-me na lama, como em cinamomo e unguentos preciosos. E, para que esse lodo se me pegasse bem firme, subjulgava-me o inimigo invisível, e me seduzia, por ser eu presa fácil da sedução.

Nem então minha mãe carnal, que já fugira do meio de Babilônia, mas que em outras coisas caminhava mais devagar, cuidou - como fizera ao aconselhar-me a castidade - de conter com os laços do matrimônio aquilo de que seu marido lhe falara a meu respeito. Já percebera ela que me era pestilencial, e que mais adiante me seria perigoso - já que essa paixão não podia ser cortada pela raiz. Não pensou nisso, digo, por temer que o vínculo matrimonial frustrasse a esperança que sobre mim acalentava; não a esperança da vida futura, que ela já tinha posto em ti, mas a esperança das letras que ambos, meu pai e minha mãe, desejavam ardentemente: meu pai, porque não pensava quase nada de ti, mas apenas ambições vãs a meu respeito; minha mãe, porque considerava que tais tradicionais estudos das letras não só não me seriam de estorvo, senão de não pouca ajuda para chegar a ti. Assim julgo eu, agora, enquanto me é possível pela lembrança, o caráter de meus pais.

Por isso, soltavam-me as rédeas para o jogo mais do que o permite uma moderada severidade, deixando-me cair na dissolução de várias paixões; e de todas surgia uma obscuridade que me toldava, ó meu Deus, a luz de tua verdade; e, por assim dizer, de meu corpo, brotava minha iniquidade.
(Por Aurelius Augustinus  *354  -430) pág. 54-55.

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