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26/07/2011 (Terça-feira)
26/07/2011 (Terça-feira)
CAPÍTULO VII
Mas eu, jovem miserável, sim, miserável desde o despertar da juventude, já te havia pedido a castidade, dizendo: "Dá-me a castidade e continência, mas não agora" - pois temia que me atendesse muito depressa, e que me curasse logo da doença de minha concupiscência, que eu mais queria saciar do que extinguir. E caminhei pelas sendas ruins de uma superstição sacrílega, não porque estivesse certo dela, mas porque a preferia às demais doutrinas, que eu não estudava piedosamente, mas que hostilmente combatia.
Acreditava que o motivo por que adiava dia a dia o desprezo das promessas seculares, para seguir apenas a ti, era o não ter descoberto uma claridade capaz de dirigir meus passos. Veio, então, o dia em que me vi nu, a ouvir as repreensões de minha consciência: "Onde está a tua palavra? Não dizias que tua indecisão para lançar longe o fardo de tua vaidade se devia a incerteza? Agora tens a certeza, e não obstante, ainda te oprime esse fardo; outros, no entanto, que não se consumiram tanto em procurá-la, nem meditaram dez anos ou mais sobre tais problemas, veem nascer asas em seus ombros mais livres".
Assim me roía interiormente, devorado por enorme e terrível vergonha, enquanto Ponticiano contava aquilo tudo. Finda a conversa, e resolvida a questão a que viera, Ponticiano voltou para sua casa, e eu para dentro de mim. Que coisas não disse contra mim? Com que açoite de palavras não flagelei minha alma, para obrigá-la a me seguir em meus esforços para te alcançar! Ela resistia, recusava-se, sem se desculpar. Todos os argumentos já estavam esgotados e refutados. Nada lhe restava, senão uma angústia muda: tinha medo, como da morte, de ser tolhida à corrente do vício, onde se corrompia mortalmente.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág.117-118
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