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14/09/2011 (Quarta-feira)
14/09/2011 (Quarta-feira)
CAPÍTULO XVI
Que direi então, desde que tenho a certeza que lembro do esquecimento? Diria talvez que não está em minha memória o que recordo? Ou talvez direi que o esquecimento está em minha memória, para que não o esqueça? Ambas hipóteses são grandes absurdos. Vejamos uma terceira hipótese: poderei eu afirmar que minha memória retém a imagem do esquecimento, e não o esquecimento em si, quando dele me lembro? Com que fundamento, pois, poderei dizê-lo, se para que se grave na memória a imagem de um objeto, é necessário que este esteja presente antes, de onde emana a imagem a ser gravada? É assim que lembro de Cartago, e assim de todos os outros lugares por que passei, assim me lembro do rosto dos homens que vi e das coisas que meus sentidos me deram a conhecer; assim me lembro ainda da dor física, coisas cujas imagens a memória fixou quando estavam presentes, para que eu as pudesse contemplar e repassar em espírito, quando eu as evocasse na sua ausência.
Se, pois, é a imagem do esquecimento que está na memória, e não ele mesmo, é evidente que nalgum momento esteve presente para que sua imagem fosse fixada. Mas, se estava presente, como podia gravar na memória sua imagem, se o esquecimento apaga com sua presença tudo o que lá está impresso? Contudo, seja qual for o mecanismo desse fenômeno, e por mais incompreensível e inexplicável que seja, estou certo de que me lembro do esquecimento, que apaga da memória todas as nossas lembranças.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág. 226-227.
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