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23/10/2011 (Domingo)
23/10/2011 (Domingo)
CAPÍTULO XLII
Poderia eu encontrar alguém que me reconciliasse Contigo? Deveria eu recorrer aos anjos? E com que orações, com que ritos? Ouvi dizer que muitos dos que se esforçavam para voltar a Ti, e que não conseguiam por si mesmos, tentaram este caminho e caíram na curiosidade de visões estranhas, recebendo por isso o justo castigo das ilusões*.
Soberbos, procuravam-Te com o coração inchado de sua ciência arrogante, e sem humildade. E atraíram para si, pela semelhança de sentimentos, os demônios do ar¹, que se fizeram cúmplices e aliados de sua soberba, e se tornaram iludidos de seus poderes mágicos. Procuravam um mediador para purificá-los, mas não o encontraram, senão ao demônio transfigurado em anjo de luz², que justamente por não possuir corpo de carne, seduziu-lhes fortemente a carne orgulhosa. Eram eles mortais e pecadores, e Tu, Senhor, com quem eles procuravam com soberba reconciliar-se, és imortal e sem pecado.
Era necessário que o mediador entre Deus e o homem tivesse alguma semelhança tanto com Deus como com os homens; pois se assemelhasse apenas aos homens, estaria muito longe de Deus; e se assemelhando só a Deus, estaria muito longe dos homens; em ambos os casos não poderia ser mediador.
E aquele falso mediador que é o demônio, a quem Teus ocultos juízos permitem que iluda a soberba, tem de comum com os homens apenas uma coisa, isto é, o pecado. Finge contudo ter algum traço em comum com Deus, e como não está revestido de carne mortal, pretende ser imortal. Mas, como a morte é o salário do pecado³, ele tem isto em comum com os homens: como eles, é condenado à morte.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág.253-254.
* Alusão aos platônicos e as suas práticas teúrgicas.
¹ Ef 2,2.
² 2Cor 11,14.
³ Rom 6,23.
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