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22/06/2011 (Quarta-feira)
22/06/2011 (Quarta-feira)
CAPÍTULO X
Quanto a meu hóspede, não me furtei de admoestar sua excessiva credulidade com que aceitava as fábulas de que estavam cheios os livros dos maniqueus. Todavia, tinha mais amizade com tais homens do que com os estranhos à sua heresia. É verdade que já não a defendia com a antiga animosidade; mas sua familiaridade - em Roma havia muitos deles ocultos - tornava-me bastante negligente para procurar outra coisa. Desesperava eu principalmente de poder achar a verdade em tua Igreja, ó Senhor dos céus e da terra, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, verdade da qual eles me afastavam. Parecia-me mui torpe acreditar que tinhas figura de carne humana, que estavas limitado pelos contornos de um corpo como o nosso. E quando queria pensar em Deus, não sabia imaginar senão com massa corpórea - pois não me parecia que pudesse existir algo diferente - esta era a causa principal e quase única de meu erro inevitável.
Daqui se gerou também minha crença de que o mal tivesse substância, , também corpórea, massa negra e disforme, ora espessa - a que chamavam terra, - ora tênue e sutil, como o ar, a qual julgava ser um espírito malígno que investia sobre a terra. E visto que minha impiedade, por pouca que fosse me obrigava a pensar que um Deus bom não podia criar nenhuma natureza má, eu imaginava duas substâncias antagônicas, ambas infinitas, a do mal um pouco menor, a do bem um pouco maior; e deste princípio pestilencial originavam-se as demais blasfêmeas. Com efeito, quando meu espírito se esforçava por voltar à fé católica, era rechaçado porque minha ideia da fé católica, não era correta. E me parecia ser mais piedoso, ó Deus, a quem louvam em mim tuas misericórdias, julgar-te infinito por todas as partes, com exceção de um aspecto, a substância do mal, onde era forçoso reconhecer teus limites, do que julgar-te limitado por todas as partes pelas formas do corpo humano.
Também supunha que nosso Salvador, teu Filho Unigênito, houvesse surgido, para nos salvar, dessa substância luzidíssima de teu corpo. A seu respeito, nada aceitava senão o que me sugeria minha louca imaginação. E por isso julgava que tal natureza não podia nascer da Virgem Maria sem ajuntar com a carne, mas não via como poderia juntar-se à carne sem se corromper; por isso tinha medo de acreditar em sua encarnação, para não me ver obrigado a julgá-lo corrompido pela carne.
Sem dúvida agora teus fiéis irão sorrir, branda e amorosamente, se lerem essas minhas confissões; mas eu, realmente, era assim.
(Por Aurelius Augustinus *354 -430) Pág. 112-113
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