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14/06/2011 (Terça-feira)
14/06/2011 (Terça-feira)
CAPÍTULO XVI
De que me serviam dons tão preciosos, se não usava bem deles? Só compreendi que aquelas artes eram tão difíceis de entender, mesmo para os estudiosos e sábios, quando me esforçava para expô-las: entre eles, o mais destacado era o que me compreendia menos vagarosamente.
Mas qual o fruto disso, se eu te concebia, Senhor meu Deus, ó Verdade, como um corpo luminoso e infinito, e eu como uma parcela desse corpo? Que rematada perversidade! Assim era eu; não me envergonho agora, meu Deus, de confessar tuas misericórdias para comigo, e de te invocar, já que não me envergonhei então de proferir ante os homens tais blasfêmias e de ladrar contra ti. De que me aproveitava, repito, a inteligência ágil para entender aquelas ciências, e para explicar com clareza tantos livros complicados, sem que ninguém mos houvesse explicado, se errava monstruosamente na piedade com sacrílega torpeza? E que prejuízo sofriam teus pequeninos em serem de menor inteligência, se não se afastavam de ti, para que, seguros no ninho de tua Igreja, se cobrissem de penas, e lhes alimentassem as asas da caridade com o sadio alimento da fé?
Ó Deus e Senhor nosso! Esperemos, ao abrigo de tuas asas; protege-nos, leva-nos!* Tu levarás os pequeninos, e até encanecidos tu nos levarás**; nossa firmeza só é firmeza quando está em ti; mas quando depende de nós, então é debilidade. Nosso bem vive sempre em ti, e somos perversos porque nos afastamos de ti. Voltemos já, Senhor, para não nos aniquilarmos, porque em ti vive nosso bem, sem deficiência alguma; sem medo de não o encontrar quando voltarmos para nossa origem e, embora ausentes, nem por isso desaba nossa casa, tua eternidade.
(Por Aurelius Agustinus *354 -430) Pág. 97-98
* SL 62,8.
**Is 46,4.
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