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05/06/2011 (Terça-feira)
05/06/2011 (Terça-feira)
CAPÍTULO XVI
Louvor e glória a ti, ó fonte das misericórdias! Eu me tornava cada vez mais miserável, e tu te aproximava cada vez mais de mim. Já estava junto de mim tua destra, para me arrancar do lodo dos meus vícios, e me purificar, e eu não o sabia. Mas nada havia que me fizesse sair do profundo abismo dos prazeres carnais, a não ser o medo da morte e de teu juízo futuro, que jamais saiu do meu peito, através das várias doutrinas que segui.
Discutia com meus amigos Alípio e Nebrídio sobre o bem e o mal finais; facilmente meu juízo teria dado a palma a Epicuro, se eu não acreditasse na imortalidade da alma e do julgamento dos nossos atos, coisas em que Epicuro nunca acreditou. E eu perguntava: "Se fôssemos mortais, e vivêssemos em perpétuo gozo sensorial, sem temor algum de perdê-lo, não seríamos felizes? Que mais poderíamos desejar?" Ignorava eu que isto era fruto duma grande miséria. Não podia, tão imerso no vício e cego como estava, imaginar a luz da virtude e uma beleza invisível aos olhos da carne, e somente visível das profundezas da alma. Na minha miséria, não indagava de que fonte provinha esse grande gosto em conversar com os amigos, mesmo sobre esses assuntos vergonhosos ; e porque não poderia ser feliz sem meus amigos desinteressadamente, e também sentia que eles me amavam com o mesmo desinteresse.
Ó caminhos tortuosos! Ai da alma temerária que, afastando-se de ti, esperava achar algo melhor! Dá voltas e mais voltas, para todos os lados, mas tudo lhe é duro, porque só tu és seu descanso. Mas eis que estás presente, e nos livras de nossos miseráveis erros, e nos pões em teu caminho, e nos consolas dizendo: "Correi, que eu vos levarei e conduzirei ao termo, e aí serei vosso sustento!*
(Por Aurelius Augustinus *354 -430) Pág. 138-139
* Is. 44,4.
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