http://criadoreumso.blogspot.com
03/07/2011 (Domingo)
03/07/2011 (Domingo)
CAPÍTULO XII
Ele admirava-se de que eu, a quem tanto estimava, estivesse tão preso ao visco do prazer a ponto de afirmar, sempre que tratávamos desse assunto, que me seria impossível levar vida casta. Para esgrimir contra sua admiração, dizia-lhe que havia grande diferença entre sua rápida e furtiva experiência do prazer, de que mal se lembrava e que, por isso, podia desprezar facilmente, e as delícias de uma ligação verdadeira, à qual, se juntasse o honesto nome de matrimônio, já não causaria admiração se eu não pudesse desprezar aquela vida. Com isso, Alípio também começou a desejar o matrimônio, não certamente vencido pelo apetite do prazer, mas pela curiosidade. Desejava saber, dizia ele, o que era aquele bem, sem o qual minha vida - que ele tanto apreciava - não me parecia vida, mas tormento. De fato, livre dessa prisão, sua alma pasmava de tal servidão, e do espanto passava ao desejo de experimentá-la. Depois talvez caísse naquela mesma escravidão que o espantava, pois queria fazer um pacto com a morte*, e o que ama o perigo nele cairá**.
Certamente que nem ele, nem eu tínhamos grande interesse no que há de bonito e honesto no matrimônio, como a direção da família e a educação dos filhos. Mas o que me mantinha preso e com fortes tormentos era o hábito de saciar minha insaciável concupiscência; e a ele, era a admiração que o arrastava para o mesmo cativeiro. Assim éramos, Senhor, até que tu, ó altíssimo, que não desamparas nosso lodo, compassivo, por caminhos maravilhosos e ocultos, viesse em socorro destes infelizes.
(Por Aurelius Augustinus *354 -430) Pág.135-136
*Is 20,18.
**Eclo 3,27.
Nenhum comentário:
Postar um comentário