12/07/2011 (Terça-feira)
CAPÍTULO X
Estimulado por essas leituras a voltar a mim mesmo, entrei, guiado por ti, no profundo do meu coração, e o pude fazer porque te fizeste minha ajuda. Entrei, e vi com os olhos da alma, acima desses mesmos olhos, acima de minha inteligência, a luz imutável; não esta vulgar e visível a todos os olhos de carne, nem outra do mesmo gênero, embora maior. Era muito mais clara e enchendo com sua força todo o espaço. Não, não era esta luz, mas uma luz diferente de todas estas.
Ela não estava sobre meu espírito como azeite sobre a água, como o céu sobre a terra, mas estava acima de mim porque me criou; eu lhe era inferior por ter sido criado por ela. Quem conhece a verdade conhece esta luz, e quem a conhece, conhece a eternidade. O amor a conhece!
Ó eterna verdade, amor verdadeiro, amada eternidade! Tu és meu Deus. Por ti suspiro dia e noite. Quando te conheci pela primeira vez, ergueste-me para me fazer ver que havia algo para ser visto, mas que eu ainda era incapaz de ver. E deslumbraste a fraqueza de minha vista com o fulgor de teu brilho, e eu estremeci de amor e temor. Pareceu-me estar longe de ti numa região desconhecida, como se ouvira tua voz do alto: "Sou o pão dos fortes: cresce, e comer-me ás. Não me transformarás em ti, como fazes com o alimento de tua carne, mas tu serás mudado em mim"*.
E conheci então que "castigaste o homem por causa de sua iniquidade", e "que secaste minha alma como uma teia de aranha"; e eu disse: Porventura não existe a verdade, por não ser difusa pelos espaços finitos e infinitos? E tu me gritaste de longe: Na verdade, Eu sou o que sou. E eu ouvi como se ouve no coração, sem deixar motivo para dúvidas; antes, mais facilmente duvidaria de minha vida que da existência da verdade, que se manifesta à inteligência pelas coisas da criação*.
(Por Aurelius Agustinus *354 -430) Pág. 154
* Sl 38,12.
** Rom 1,20.
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