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24/07/2011 (Domingo)
24/07/2011 (Domingo)
CAPÍTULO VI
Estes dois eram dos chamados agentes de negócios do imperador. De repente, tomado de amor santo e casto pudor, irado consigo mesmo, olha para o companheiro e lhe diz: "Dize-me, te peço, onde pretendemos chegar com todo estes nossos trabalhos? Que buscamos? Qual a finalidade do nosso labor? Podemos aspirar mais no palácio do que ser amigos do imperador? E mesmo nisto, quanta incerteza, quantos perigos! E quantos perigos teremos de passar para chegar a um perigo ainda maior? E quando chegaremos a isso? Mas, se eu quiser ser amigo de Deus, posso sê-lo agora mesmo" Disse essas palavras, e exaltado pela gestação de nova vida voltou os olhos para o livro; ao ler, transformava-se interiormente, o que só tu sabias, e seu espírito se despia do mundo, como logo se evidenciou.
Enquanto lia, o coração se lhe tornou um mar tempestuoso, sentiu um estremecimento e, intuindo o melhor caminho a tomar, resolveu abraçá-lo, dizendo ao amigo: "Já rompi com nossos sonhos: decidi dedicar-me ao serviço de Deus, e isso quero começar aqui e agora. Se não me queres imitar, ao menos não me contraries".
O amigo respondeu que desejava ficar com ele, e ser companheiro de tão nobre mercê e de tão grande combate. Ambos já te pertenciam, e começavam a construir, com capital suficiente, uma torre de salvação, a tudo renunciando para te seguir.
Então Ponticiano e seu companheiro, que passeavam em outro local do jardim, procurando-os, deram também com a mesma cabana, e os avisaram para que voltassem, pois já entardecia. Mas eles, relataram-lhes sua determinação e propósito, e o modo como nascera e se fixaram neles tal desejo, pediram-lhes que, se não quisessem juntar-se a eles, que não os molestassem. Mas estes, sem se converterem, lamentaram a si mesmos, no dizer de Ponticiano, e felicitando-os piedosamente, recomendaram-se às suas orações; depois, arrastando o coração pela terra, voltaram ao palácio, enquanto que os convertidos, fixando seu coração no céu, ficaram na cabana.
Ambos eram noivos; mas quando suas noivas ouviram o sucedido, também te consagraram sua virgindade.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág.176-177
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