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10/08/2011 (Quarta-feira)
10/08/2011 (Quarta-feira)
CAPÍTULO VIII
Nem ela mesma enaltecia tanto zelo da mãe em educá-la, quanto o de uma velha serva, que carregara seu pai quando menino, como hoje as meninas maiores costumam carregar as crianças, às costas.
Estas recordações, sua idade avançada e hábitos exemplares lhe assegurava naquela casa cristã o respeito de seus amos. Ela própria cuidava solicitamente das meninas que lhe haviam sido confiadas, ora repreendendo-as quando fosse o caso, com santa e enérgica severidade, ora instruindo-as com discreta prudência. Afora do horário em que tomavam uma sóbria refeição à mesa de seus pais, ainda que tivessem muita sede, nem água permitia que elas bebessem, precavendo com isto um mau costume. E acrescentava este sábio aviso: "Agora bebeis água, porque não tendes como beber vinho; mas quando estiverdes casadas, donas da despensa e da adega, deixareis a água, mas continuará o hábito de beber".
E unindo assim o conselho à autoridade, refreava os apetites daquela tenra idade, e acostumava aquelas jovens à temperança, para que não tivessem desejo do que não lhes convinha.
No entanto - como tua serva me contou a mim, seu filho - insinuou-se nela certo gosto pelo vinho. Julgando-a menina sóbria, seus pais a escolheram, como era costume, para tirar o vinho do tonel. Mergulhava a caneca pela parte superior do recipiente e, antes de passar o vinho para a garrafa, sorvia com a ponta dos lábios um pouquinho: era-lhe impossível beber mais, porque o vinho lhe repugnava. Não fazia isto movida pela inclinação à embriaguez, mas pela exuberância juvenil, que se manifesta em movimentos, em brincadeiras, e que na meninice costumam ser reprimidos pela autoridade severa dos mais velhos. Mas, acrescentando todos os dias uns goles àqueles goles - pois quem descuida das coisas pequenas pouco a pouco cai nas maiores¹ - acostumou-se a esvaziar avidamente copos quase cheios de vinho puro.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430)Pág. 199
¹ Eclo 19,1.
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