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11/08/2011 (Quinta-feira)
11/08/2011 (Quinta-feira)
CAPÍTULO VIII
Onde estava então a prudente anciã, e sua severa proibição? Mas que remédio curaria um mal oculto se tua medicina, Senhor, não velasse sobre nós? Na ausência do pai, da mãe e das amas, estavas lá tu que nos criaste, que nos chamas, e que por meio dos que nos educam fazes o bem para a salvação das almas. Que fizeste então, meu Deus? Como a socorreste? Como a curaste? Fizeste sair de outra pessoa segundo tuas secretas providências, um sarcasmo duro e pungente como ferro medicinal, para curar de um só golpe aquela gangrena.
A criada que costumava acompanhá-la à adega, discutindo com sua jovem senhora, como às vezes acontece, estando as duas a sós, lançou-lhe em rosto sua intemperança, chamando-a insultuosamente de bêbada. Ferida por esse sarcasmo, a jovem reconheceu a fealdade daquele hábito, reprovou-o, e no mesmo instante o abandonou.
Assim como muitas vezes as lisonjas dos amigos nos pervertem, assim os insultos dos inimigos nos corrigem. Mas não é o bem que nos fazes por seu intermédio que retribuis, mas a intenção com que o fazem. Aquela criada zangada pretendia ofender sua jovem senhora, e não corrigí-la; e se o fez às escondidas foi só por força da circunstância do lugar e tempo, ou para que não viesse a sofrer por denunciar tão tarde o costume de sua senhora.
Mas, Tu, Senhor, governador do céu e da terra, que desvias para teus desígnios as águas da torrente e regulas o curso turbulento dos séculos, curaste a loucura de uma alma com a insânia de outra. Por isso ninguém, ao considerar o caso, atribua a seu poder pessoal o mérito de ter corrigido com suas palavras a alguém cuja emenda deseja conseguir.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430)Pág.199-200.
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