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15/08/2011 (Segunda-feira)
15/08/2011 (Segunda-feira)
CAPÍTULOX
E enquanto assim falávamos dessa Sabedoria e por ela suspirávamos, chegamos a tocá-la momentaneamente com supremo ímpeto de nosso coração; e suspirando, deixamos ali atadas as primícias de nosso espírito, e voltamos ao ruído vazio de nossos lábios, onde nasce e morre a palavra humana, em nada semelhante a teu Verbo, Senhor nosso, que subsiste em si sem envelhecer, renovando todas as coisas!
E dizíamos: Suponhamos que se calasse o tumulto da carne, as imagens da terra, da água, do ar e até dos céus; e que a própria alma se calasse, e se elevasse sobre si mesma não pensando mais em si; se calassem os sonhos e revelações imaginárias e, por fim, se calasse por completo toda língua, todo sinal, e tudo o que é fugaz - uma vez que todas as coisas dizem a quem sabe ouví-las: Não fizemos a nós mesmas; fez-nos o que permanece eternamente¹ - se, dito isto, todas se calassem, atentas a seu Criador; e se só ele falasse, não por suas obras, mas por si mesmo, de modo que ouvíssemos sua palavra, não por uma língua material, nem pela voz de um anjo, nem pelo ruído do trovão, nem por parábolas enigmáticas, mas o ouvíssemos a ele mesmo, a quem amamos nas suas criaturas, mas sem o intermédio delas, como agora acabamos de experimentar, , atingindo em um relance a eterna Sabedoria, que permanece imutável sobre toda realidade, e supondo que essa visão se prolongasse, que todas as outras visões cessassem, e unicamente esta arrebatasse a alma de seu contemplador, e a absorvesse e abismasse em íntimas delícias, de modo que a vida eterna seja semelhante a este momento de intuição que nos fez suspirar, não seria isto a realização do entrar no gozo de teu Senhor²? Mas quando se dará isto? Por acaso quando todos ressuscitarmos? Mas então não seremos todos transformados³?
Tais coisas dizíamos, embora não deste modo, nem com estas palavras. Mas tu sabes, Senhor, que naquele dia, à medida que falávamos dessas coisas, quanto nos parecia vil este mundo, com todos os seus deleites, - disse-me minha mãe: "Filho, quanto a mim, já nada me atrai nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui, nem por que ainda estou aqui, se já se desvaneceram para mim todas as esperanças do mundo. Uma só coisa me fazia desejar viver um pouco mais, e era ver-te católico antes de morrer. Deus me concedeu esta graça superabundantemente, pois te vejo desprezar a felicidade terrena para serví-lo. Que faço, pois aqui?"
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág. 203-204.
¹ - Sl 99: 3-5.
² - Mt 25,21.
³ - I Cor 15,51.
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