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10/09/2011 (Sábado)
10/09/2011 (Sábado)
CAPÍTULO XIV
Essa mesma memória conserva também os afetos da alma, não do modo como os sente a alma quando da vivência, mas de modo muito diverso, segundo o exige a força da memória. Lembro-me de ter estado alegre, ainda que não o esteja agora; recordo minha tristeza passada, sem estar triste; lembro-me de ter sentido medo, sem sentí-lo de novo; lembro-me de antigo desejo, sem que o mesmo sinta agora. Outras vezes, pelo contrário lembro-me com alegria a tristeza passada, e com tristeza uma alegria passada. Isto nada tem para admirar quando se trata de emoções corporais, porque uma coisa é a alma e outra o corpo; e assim não é maravilha que me lembre com alegria de um sofrimento físico passado.
Porém, aqui o espírito é a própria memória. Quando confiamos uma tarefa a alguém, dizemos: "Grave-o bem no espírito". - Quando nos esquecemos de algo dizemos: "Não o guardei no espírito", "fugiu-me do espírito." É, portanto, a memória que chamamos de espírito. Sendo assim, por que ao evocar com alegria uma tristeza passada, meu espírito sente alegria e minha memória, tristeza? Se meu espírito se alegra com a alegria que tem em si, por que a memória não se entristece com a tristeza, que também tem em si? Seria a memória estranha ao espírito? Quem ousará afirmá-lo? Sem dúvida a memória é como o estômago da alma, e a alegria e a tristeza como alimentos, doce ou amargo; quando tais emoções são confiadas à memória, depois de passarem, digamos, por esse estômago, podem ali serem guardadas, mas já perderam o sabor. Seria ridículo comparar emoções e alimento como semelhantes. Contudo, elas não são totalmente diferentes.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág. 223-224.
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