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17/09/2011 (Sábado)
17/09/2011 (Sábado)
CAPÍTULO XIX
E quando a própria memória perde uma lembrança, como acontece quando nos esquecemos de algo e procuramos recordá-la, o que se passa? Onde, afinal, a procuramos senão na própria memória? E se esta, por acaso, nos oferece uma coisa por outra, a repelimos até que apareça o que buscamos. E assim que aparece dizemos: "É isso". E assim não diríamos se não a reconhecêssemos, e não a reconheceríamos se dela não houvesse registro. É certo, portanto, que já a havíamos esquecido. Ou será que ela não se apagara totalmente de nossa memória, por meio da parte que nos ficou impressa procuramos a outra? A memória, nesse caso, teria ciência de não poder, como de ordinário, fornecer a lembrança em seu conjunto e, mutilada, reclamaria a parte faltante. É o que sucede quando vemos uma pessoa conhecida, ou nela pensamos sem poder recordar seu nome. Se outro nome se nos apresenta ao espírito, não o associamos à tal pessoa, porque em nosso pensamento estão unidos o nome e a pessoa; por isso o afastamos, até que se apresenta um que concorde com nossa representação habitual da pessoa.
Mas donde nos vem este nome, senão da memória? Mesmo quando nos é sugerido por outrem, é pela memória que o reconhecemos; não o aceitamos como um conhecimento novo, mas recordando-o, confirmamos ser esse o nome que nos disseram. Se fosse totalmente apagado da alma, nem mesmo avisados o reconheceríamos.
Não podemos pois, afirmar que nos esquecemos completamente daquilo de que nos lembramos ter esquecido. De nenhum modo poderíamos resgatar uma lembrança perdida se seu esquecimento fosse total.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430)Pág. 228-229.
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