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06/09/2011 (Terça-feira
06/09/2011 (Terça-feira
CAPÍTULO X
Ouço dizer que há três gêneros de questões a saber: se uma coisa existe, qual a sua natureza e qual sua qualidade - retenho a imagem dos sons de que se compõem estas palavras, e sei que estes atravessaram o ar como ruído, e já não existem. Mas as realidades significadas por tais palavras, eu jamais atingi com nenhum sentido do corpo, nem as vi em nenhuma parte fora de meu espírito; o que gravei na minha memória não são suas imagens, mas as próprias realidades. Que me digam, se o puderem, por onde entraram em mim! Percorro em vão todas as portas do meu corpo, e não descubro por onde poderiam ter entrado. Com efeito: os olhos dizem: "Se são coloridas, fomos nós que as transmitimos". - Os ouvidos dizem: "Se eram sonoras, foram por nós comunicadas". - As narinas dizem: "Se tinham cheiro, passaram por aqui." - E o gosto diz: "Se não têm sabor, nada me perguntem." - O tato declara: "Se não são corpóreas, eu não as toquei, e portanto não poderia revelá-las."
De onde, então, e por onde entraram em minha memória? Ignoro-o. Aprendi-as não dando crédito ao testemunho alheio, mas as reconheci de mim e aprovei-as como verdadeiras; confiei-as a meu espírito como em depósito, de onde poderei tirá-las quando quiser. Estavam pois ali, antes mesmo que eu as aprendesse, mas não na memória. E onde estavam então? E porque, ao serem mencionadas, eu as reconheci e disse: "É assim mesmo, é verdade" - senão porque já estavam em minha memória? Mas tão escondidas e sepultadas em tão secretos recessos, que se alguém não as arrancasse dali com suas perguntas, talvez eu nem pudesse concebê-las.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág.221.
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