Lírio Verde

Criar seu atalho

Criar seu atalho
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03/05/2011 (Terça-feira)
03/05/2011 (Terça-feira)
Uma questão que desde logo se apresenta é a dos cismas que poderão nascer no seio da Doutrina. Estará preservado deles o Espiritismo?
Não, certamente, porque terá, sobretudo no começo, de lutar contra as ideias pessoais, sempre absolutas, tenazes, refratárias a se amalgamarem com as ideias dos demais; e contra a ambição dos que, a despeito de tudo, se empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer; dos que criam novidades só para poderem dizer que não pensam ou agem como os outros, pois lhes sofre o amor-próprio por ocuparem uma posição secundária.
Se, porém, o Espiritismo não pode escapar às fraquezas humanas, com as quais se tem de contar sempre, pode todavia neutralizar-lhes as consequencias e isto é o essencial.
É de notar-se que os vários sistemas divergentes, surgidos na origem do Espiritismo, sobre a maneira de explicarem-se os fatos, foram desaparecendo à medida que a Doutrina se completou por meio da observação e de uma teoria racional. Hoje, raros partidários ainda contam esses primitivos sistemas. É este um fato notório, do qual se pode concluir que as últimas divergências se apagarão com a elucidação integral de todas as partes da Doutrina. Mas, haverá sempre os dissidentes, de ânimo prevenido e interessados, por um motivo ou outro, a constituir bando à parte. Contra a pretensão desses é que se cumpre se premunam os demais.
Para assegurar-se, no futuro, a unidade, uma condição se faz indispensável: que todas as partes do conjunto da Doutrina sejam determinadas com precisão e clareza, sem que coisa alguma fique imprecisa. Para isso, procedemos de maneira que os nossos escritos não se prestem a interpretações contraditórias e cuidaremos de que assim aconteça sempre. Quando for dito peremptoriamente e sem ambiguidade que dois e dois são quatro, ninguém poderá pretender que dois e dois fazem cinco.
Conseguintemente, seitas poderão formar-se ao lado da Doutrina, seitas que não lhe adotem os princípios, porém não dentro da Doutrina, por efeito de interpretação dos textos como tantas se formaram sobre os sentidos das próprias palavras do Evangelho. É este um primeiro ponto de capital importância.
O segundo ponto está em não se sair do âmbito das ideias práticas. Se é certo que a utopia da véspera se torna muitas vezes a verdade do dia seguinte, deixemos que o dia seguinte realize a utopia da véspera, porém não atravanquemos a Doutrina de princípios que possam ser considerados quiméricos e fazer que a repilam os homens positivos.
O terceiro ponto, enfim, é inerente ao caráter essencialmente progressivo da Doutrina. Pelo fato de ela não se embalar com sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobilize no presente. Apoiada tão-só nas leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas, se uma nova lei for descoberta, tem ela que se por de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.
Se, portanto, uma seita se formar à ilharga do Espiritismo, fundada ou não em seus princípios, de duas uma: ou essa seita estará com a verdade, ou não estará; se não estiver, cairá por si mesma, sob o ascendente da razão e do senso comum,, como já sucedeu a tantas outras, através dos séculos; se suas ideias forem acertadas, mesmo que com relação a um único ponto, a Doutrina, que apenas procura o bem e o verdadeiro onde quer que se encontrem, as assimilará, de sorte que, em vez de ser absorvida, absorverá.
Se alguns de seus adeptos vierem a afastar-se, é que acreditarão capazes de fazer coisa melhor; se realmente fizerem algo melhor, ela se esforçará por fazer outro tanto; se fizerem coisa má, deixará que a façam, certa de que cedo ou tarde, o bem sobrepuja o mal e o que é verdadeiro predomina sobre o que e falso. esta a única luta em que se empenhará.
Acrescentemos que a tolerância, fruto da caridade, que constitue a base da Doutrina Espírita, lhe impõe como um dever respeitar todas as crenças. Querendo ser aceita livremente, por convicção e não por constrangimento, proclamando a liberdade de consciência um direito natural imprescritível diz: Se tenho razão, todos acabarão por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os outros. Em virtude destes princípios, não atirando pedras a ninguém, ela nenhum pretexto dará para represálias e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos.
Não será, pois, invariável o programa da Doutrina, senão com referência aos princípios que hoje tenham passado à condição de verdades comprovadas. Com relação aos outros, não os admitirá, como há feito sempre, senão a título de hipóteses, até que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ela se modificará nesse ponto.
A verdade absoluta é eterna e, por isso mesmo, invariável. Mas, quem poderá lisonjear-se de possuí-la toda? No estado de imperfeição em que se acham os nossos conhecimentos, o que hoje nos parece falso pode amanhã ser reconhecido como verdadeiro, em consequência da descoberta de novas leis, e com isso tanto na ordem moral, quanto na ordem física. Contra essa eventualidade, a Doutrina nunca devera estar desprevenida. O princípio progressivo, que ela inscreve no seu código, será a salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manterá, exatamente porque ela não assenta no princípio da imobilidade.
Esta, longe de ser uma força, se torna causa de fraqueza e de ruína para quem não acompanha o movimento geral; quebra a unidade, porque os que querem avançar se separam dos que persistem em ficar atrás. Mas, acompanhando o movimento progressivo, cumpre fazê-lo com prudência e evitar ir de cabeça baixa ao encontro dos devaneios da utopia e dos sistemas; cumpre fazê-lo a tempo, nem muito cedo, nem muito tarde, e com conhecimento de causa.
Indiscutivelmente uma doutrina assente sobre tais bases tem que ser forte, em realidade, capaz de desafiar qualquer concorrência e de anular as pretensões dos seus competidores.
Aliás, a experiência já comprovou o acerto desta previsão. Tendo marchado sempre por esse caminho desde a sua origem, a Doutrina avança constantemente, mas sem precipitação, verificando sempre se é sólido o terreno onde pisa e medindo seus passos pelo estado da opinião. Há feito como o navegante que não prossegue sem ter na mão a sonda e sem consultar os ventos.
(Allan Kardec - pág. 347-350).
Estes princípios, para mim, não existem apenas em teoria, pois que os ponho em prática; faço tanto bem quanto o permite a minha posição; presto serviços quando posso; os pobres nunca foram repelidos de minha porta, ou tratados com dureza; foram recebidos sempre, a qualquer hora, com a mesma benevolência; jamais me queixei dos passos que hei dado para fazer um benefício; pais de família têm saído da prisão, graças aos meus esforços. Certamente, não me cabe inventariar o bem que já pude fazer; mas, do momento em que parecem esquecer tudo, é-me lícito, creio, trazer à lembrança que a minha consciência me diz que nunca fiz mal a ninguém, que hei praticado todo o bem que esteve ao meu alcance, e isto, repito-o, sem me preocupar com a opinião de quem quer que seja.
A esse respeito trago tranquila a consciência; e a ingratidão com que me hajam pago em mais de uma ocasião, não constituirá motivo para que eu deixe de praticá-lo. A ingratidão é uma das imperfeições da humanidade e, como nenhum de nós está isento de censura, é preciso desculpar os outros, para que nos desculpem a nós, de sorte a podermos dizer como Jesus Cristo: "Atire a primeira pedra aquele que estiv er sem pecado". Continuarei, pois, a fazer todo o bem que me seja possível, mesmo aos meus inimigos, porquanto o ódio não me cega. Sempre lhes estenderei as mãos, para tirá-los de um precipício, se se oferecer oportunidade.
Eis como entendo a caridade cristã. Compreendendo uma religião que nos prescreve retribuamos o mal com o bem e, com mais forte razão, que retribuamos o bem com o bem. Nunca, entretanto, compreenderia a que nos prescrevesse que pagássemos o mal com o mal.
(Pensamentos íntimos de Allan Kardec, num documento achado entre os seus papéis.)
(Allan Kardec - pág. 337-338).
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