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18/08/2011 (Quinta-feira)
18/08/2011 (Quinta-feira)
CAPÍTULO XII
Fechei-lhe os olhos, e uma tristeza invadiu-me o coração, e já me ia desfazer em lágrimas; ao mesmo tempo, meus olhos, obedecendo ao enérgico poder de minha vontade, fechavam sua fonte até secá-la. Como foi angustiosa essa luta! E foi quando ela deu o último suspiro, que o meu filho Adeodato rebentou em soluços; mas, instado por todos nós, se calou. Deste modo sua voz juvenil, voz do coração, calou em mim essa espécie de emoção pueril que me provocava o pranto. De fato, não julgávamos correto celebrar aquele funeral com lástimas e choros, pois tais demonstrações deploram geralmente o triste destino dos que morrem, ou sua total extinção. A morte de minha mãe não era uma desgraça, e ela não morria para sempre, e disto estávamos certos pelo testemunho de seus costumes, por sua fé sincera¹ e outras razões inequívocas.
Que era então o que tanto me pungia, senão a ferida recente causada pelo rompimento repentino de nosso dulcíssimo e querido convívio?
Era para mim grande consolação o testemunho que dera de mim, quando nesta sua última enfermidade, respondendo com ternura as minhas atenções, chamava-me de bom filho, e recordava com grande afeto o nunca ter ouvido de minha boca uma só palavra dura ou injuriosa contra ela. Entretanto, o que era, meu Deus e meu Criador, a solicitude que eu lhe tributava, em comparação com o devotamento servil que por mim suportara? Por me ver privado de tão grande consolo, sentia a alma ferida e minha vida, que era uma só com a sua. estava despedaçada.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág. 206.
¹ I Cor 15,51
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