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05/08/2011 (Sexta-feira)
05/08/2011 (Sexta-feira)
CAPÍTULO IV
Que invocações levei a ti, meu Deus, lendo os Salmos de Davi, cânticos de fé, hinos de piedade, que expulsavam de mim todo sentimento de orgulho! Eu era ainda inexperiente de teu verdadeiro amor, e dividia minhas horas de lazer com Alípio, catecúmeno como eu. Minha mãe estava conosco. Ao aspecto de mulher ela aliava fé varonil, a calma da velhice, a ternura de mãe e a piedade de cristã. Que exclamações elevei a ti naqueles salmos, e como me inflamava com eles em teu amor! Incendiava-me em desejos de recitá-los, se fosse possível, ao mundo inteiro, para rebater a soberba do gênero humano! Com efeito, em todo o mundo se cantam. Não há ninguém que se subtraia a teu calor¹.
Com que veemente e dolorosa indignação me levantava contra os maniqueístas! E de novo me compadecia deles por ignorarem esses sacramentos. Esses remédios, investindo loucamente contra o antídoto que poderia curá-los! Gostaria que estivessem perto de mim, sem que eu o soubesse, e que vissem meu rosto e ouvissem minhas exclamações quando lia o Salmo 4 naquelas minhas férias, e percebessem os efeitos salutares que me produzia este salmo: Quando te invoquei, tu me escutaste, ó Deus de minha justiça! Dilataste a minha alma na tribulação. Compadece-te, Senhor, de mim, e ouve minha prece². Se me ouvissem, - sem eu o saber, para que não pensassem que eram por causa deles as palavras que eu entremeava às do salmo, porque realmente nem eu diria tais coisas, nem as diria daquele modo, se soubesse da sua presença; e, mesmo que as palavras fossem as mesmas, eles não as entenderiam como eu as dizia a mim mesmo, diante de ti, na íntima efusão dos afetos de minha alma.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430)Pág. 192-193
¹ Sl 18,7.
² Sl 4,1.
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