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21/08/2011 (Domingo)
21/08/2011 (Domingo)
CAPÍTULO XII
Agora, com a ferida do meu coração já sanada, na qual se podia censurar um afeto muito carnal, derramo diante de ti, meu Deus, por tua serva, outra espécie de lágrimas, bem diferentes, aquelas que brotam do espírito comovido à vista dos perigos que corre toda alma que morre em Adão. É verdade que minha mãe, vivificada em Cristo, antes mesmo de ser livre dos laços da carne, viveu de tal modo, que teu nome era louvado em sua fé e em seus costumes. Contudo, não me atrevo a dizer que desde que a regeneraste no batismo não saiu de sua boca nenhuma palavra contrária à tua lei. Porque a Verdade, que é teu Filho, disse: "Quem chamar a seu irmão de louco será réu do fogo da geena¹". Ai da vida dos homens, por mais louvável que seja, se tu a julgares sem a tua misericórdia! Mas porque não examinas nossos pecados com rigor, confiadamente esperamos tomar lugar a teu lado. Quem enumera diante de ti seus próprios méritos, que mais expõe senão teus dons? Oh! se os homens se reconhecessem como homens! Se quem se glorifica se glorificasse no Senhor²!
Por isso, Deus de meu coração, minha vida e minha glória, esquecendo por um momento as boas ações de minha mãe, pelas quais te dou graças com alegria, peço-te agora perdão por seus pecados. Ouve-me pelos méritos daquele que é médico de nossas feridas, que foi suspenso do madeiro da cruz e que, sentado agora à tua direita, intercede por nós junto de ti³. Eu sei que ela sempre agiu com misericórdia, e que perdoou de coração as faltas contra ela cometidas; perdoa-lhe também suas dívidas, se algumas contraiu em tantos anos que se seguiram ao batismo. Perdoa-lhe, Senhor, perdoa-lhe, te suplico, e não entres em juízo⁴ com ela.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág. 208-209.
₁ Mt 5,22.
₂ I Cor 10,17.
₃ Rom 8,34.
₄ Sl 142,2.
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