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11/10/2011 (Terça-feira)
11/10/2011 (Terça-feira)
CAPÍTULO XXXV
Daqui podemos distinguir claramente o papel da volúpia e o da curiosidade na ação dos sentidos. O prazer procura o que é belo, melodioso, suave, saboroso, agradável ao todo; a curiosidade por sua vez deseja o contrário, não para se expor ao sofrimento, mas pela paixão de conhecer por meio da experiência. Que prazer pode ter na visão de um cadáver dilacerado, que causa horror! E todavia onde há um cadáver, para lá corre toda a gente para se entristecer e empalidecer. E temem depois revê-lo em sonhos, como se alguém os tivesse obrigado a contemplá-lo, ou como se a fama de alguma beleza os tivesse atraído. O mesmo acontece com os outros sentidos, o que seria enfadonho enumerar.
É esse quê de mórbido da curiosidade que faz com que se exibam monstruosidades nos espetáculos. É ela que nos induz a perscrutar os segredos da natureza exterior, cujo conhecimento de nada serve, mas que os homens buscam conhecer apenas pelo prazer de conhecer. É ela também que inspira o homem a pesquisar, com fim semelhante, a ciência perversa, que é a arte da magia.
E é ela, enfim, que, até na religião, nos induz a tentar a Deus, pedindo-Lhe sinais e prodígios, para a salvação da alma, mas apenas pela ânsia de vê-los.
(Por Aurelius Augustinus *354 +430) Pág. 245-246.
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