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GALÁXIA, ALFA, Brazil
Simples como a brisa, complexo como nós. Nascido em 25/5/1925.

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segunda-feira, 30 de abril de 2012

COMO SE CONHECE A ALMA. CONFIANÇA EM DEUS ( II ) — SOLILÓQUIOS

http://criadoreumso.blogspot.com
30/04/2012 (Segunda-feira)

ILUMINE-SE!
OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
QUEM CONVERSA, DE FATO, COM AGOSTINHO? SEU "EU" SUPERIOR? SEU ANJO DA GUARDA? NÃO É UM DIÁLOGO, CONFORME ELE — É UM SOLILÓQUIO.

(continuação)
Como se conhece a alma. Confiança em Deus ( II ).


R — E quando uma pessoa casta morre, tu achas que a castidade acaba?


A — De modo algum.


R — Portanto, quando perece algo que é verdadeiro, não perece a verdade.


A — Como perece algo que seja verdadeiro? Não percebo.


R — Admira-me que faças esta pergunta; não vemos milhares de coisas perecerem ante nossos olhos? Talvez, aches que esta árvore, ou é árvore, mas não é verdadeira, ou que não possa parecer. Embora não acreditando nos sentidos, pudessem responder que não sabes com absoluta certeza que seja uma árvore, contudo não negarás (conforme julgado) que, se é uma árvore, trata-se de uma árvore verdadeira. Pois isto se julga não pelo sentido, mas pela inteligência. Se for uma árvore falsa, não é árvore; mas se for uma árvore, necessariamente é verdadeira.


A — Concordo com isto.


R — Em relação também à seguinte sentença: concedes que a árvore é do gênero de coisas que nascem e perecem?


A — Não posso negar.


R — Conclui-se, pois, que algo que é verdadeiro perece.


A — Não contradigo.


R — Não te parece, então, que mesmo perecendo coisas verdadeiras, não perece a verdade, assim como não acaba a castidade quando morre uma pessoa casta?


A — Também isto concedo e gostaria muito de saber o que intencionas.


R — Então presta atenção.


A — Sou todo ouvidos.


R — Parece-te verdadeira a seguinte sentença? O que existe, concebe-se como existente em algum lugar.


A — Nada me força a estar de acordo.


R — Mas admites que a verdade existe?


A — Sim.


R — Portanto, é necessário que a procuremos onde ela se encontra. Mas ela não existe em um lugar, a não ser que julgues que algo além do corpo ocupa lugar, ou que a verdade seja um corpo.


A — Não admito nada disso.


R — Onde, então, achas que ela está? Pois concedemos que ela existe em alguma parte.


A — Se soubesse onde ela está, talvez nada mais procuraria.


R — Pelo menos podes saber onde ela não está?


A — Se me deres alguma ideia, talvez poderei.


R — Certamente não está nas coisas mortais, porque o que existe em outra coisa não pode permanecer se não permanece aquilo onde está. E há pouco concordamos que a verdade permanece mesmo quando perecem coisas verdadeiras. Por isso, a verdade não está nas coisas que perecem. Mas a verdade existe e não está em nenhum lugar. Portanto, existem coisas imortais. Mas nada há de verdadeiro onde não esteja a verdade. Conclui-se, pois, que  não há coisas verdadeiras senão as que são imortais. Toda árvore falsa não é árvore; a madeira falsa não é madeira; a prata falsa não é prata; tudo que é falso não é. Mas tudo o que não é verdadeiro é falso. Por isso, não se pode afirmar corretamente que uma coisa é, senão as imortais. Reflete criteriosamente sobre este pequeno argumento, para ver se há algo com o qual não deves estar de acordo. Mas se é certo, teremos executado toda a nossa tarefa, o que talvez aparecerá melhor no outro livro.


A — Sou-te grato; refletirei comigo mesmo com critério e cautela sobre essas coisas e principalmente contigo, quando estamos recolhidos em silêncio, desde que não interfira alguma treva e me atraia com seu deleite, o que receio imensamente.


R — Crê constantemente em Deus e entrega-te inteiramente a Ele, quanto te seja possível. Não queiras ser como autônomo na tua capacidade, mas declara-te servidor do clementíssimo e generosíssimo Senhor, de modo que Ele não cesse de erguer-te até Ele e não permita que nada te ocorra a não ser o que seja útil para ti, mesmo que não saibas.


A — Ouço, creio e obedeço quanto posso; peço a Ele insistentemente para que eu possa ainda mais, a não ser que talvez queiras de mim algo mais.


R — Por enquanto basta, depois farás o que a percepção te aconselhar.
(Continua)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430).

domingo, 29 de abril de 2012

COMO SE CONHECE A ALMA. CONFIANÇA EM DEUS — SOLILÓQUIOS

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29/04/2012 (Domingo)

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(continuação)
Como se conhece a alma. Confiança em Deus.

R — Vamos concluir, se te convém, este primeiro volume para, no segundo, entrarmos já por algum caminho que se nos apresente como oportuno. Pois devemos aplicar-nos a uma prática moderada, por causa do teu estado.

A — Não permitirei absolutamente que se conclua este primeiro livro enquanto não me desvendares um pouco da proximidade da luz pela qual me empenho.


R — AquEle médico é quem a comanda, pois não sei que fulgor me convida e move a te conduzir. Então está atento. 


A — Peço-te que me conduzas e me leves para onde quiseres.


R — Dizes que desejas conhecer a alma de Deus?


A – Isto é tudo o que desejo.


R — Nada mais?


A — Absolutamente nada.


R — Então, não queres compreender a verdade?


A — Não posso conhecer aquelas duas coisas senão através desta.


R — Portanto, primeiro se deve conhecer a verdade, pela qual possam ser conhecidas as outras.


A — Não nego.


R — Primeiramente, vejamos o seguinte: sendo verdade e verdadeiro duas palavras, parece-te que estas palavras aplicam duas coisas ou somente uma?


A — Parecem significar duas coisas. Pois assim como uma coisa é castidade e outra coisa é casto — e assim por diante —, assim creio que uma coisa é verdade e outra o que se diz verdadeiro.


R — Qual dessas duas achas que seja superior?


A — A verdade. Pois não é a castidade que se faz pelo casto, mas sim o casto que se faz pela castidade. Assim também o que é verdadeiro certamente o é pela verdade.
(Continua amanhã)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430)

sábado, 28 de abril de 2012

A PRÓPRIA SABEDORIA PURIFICA AS VISTAS — SOLILÓQUIOS

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28/04/2012 (Sábado)

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QUEM CONVERSA, DE FATO, COM AGOSTINHO? SEU "EU" SUPERIOR? SEU ANJO DA GUARDA? NÃO É UM DIÁLOGO, CONFORME ELE — É UM SOLILÓQUIO.

(continuação)
A própria sabedoria purifica as vistas.


A — No dia seguinte continuo dizendo: indica-me aquela ordem, se puderes. Guia-me, leva-me para onde quiseres, através das coisas que quiseres. Ordena-me quaisquer coisas rigorosas, quaisquer coisas árduas, desde que estejam a meu alcance, pelas quais não duvide que chegarei aonde desejo.


R — Não sei de outra coisa senão a única que posso prescrever-te: devemos evitar inteiramente as coisas sensíveis e precaver-nos muito, enquanto vivemos neste corpo, para que nossas asas não sejam retidas pelo visgo dessas mesmas coisas.¹ É necessário que nossas asas estejam íntegras e perfeitas para voarmos destas trevas àquela luz, que certamente não se digna mostrar-se aos que estão fechados nesta gaiola, a não ser que se portem de modo que, uma vez rompida e quebrada esta gaiola, possam escapar para suas regiões. Por isso, quando estiveres em tal condição que absolutamente nada do que é terreno te cause deleite, acredita-me, naquele momento, naquele instante verás o que desejas.


A — Mas pergunto-te, quando isto acontecerá? Pois acho que não conseguirei ter essas coisas em sumo menosprezo, se não vir aquilo em cuja comparação tais coisas perdem o valor.


R — Desse modo, também o olho do corpo poderia dizer: deixarei de gostar da sombra quando eu vir o sol. Como se isso fizesse parte da ordem, o que de longe é muito diferente. Pois ele gosta da sombra porque não está são; e só pode olhar para o sol se estiver são. E neste ponto muito frequentemente se engana a mente julgando-se sã e gabando-se disto e, por não ver ainda, lamenta-se como se tivesse razão. Mas aquEla beleza sabe o momento em que há de se revelar. Ela desempenha a função de médico e sabe quais são os que têm saúde, melhor que os próprios enfermos que são objeto de medicação. Parece-nos ver quanto emergimos, mas não podemos imaginar nem sentir quanto estávamos submersos e, em comparação com uma doença mais grave, julgamos que estamos com saúde. Não percebes com que segurança falávamos ontem, no sentido de que não seríamos detidos por nenhuma enfermidade e nada mais amávamos senão a Sabedoria e que buscávamos ou desejávamos as demais coisas somente em função dEla? E quando refletíamos em conjunto sobre o desejo de uma mulher, como te parecia vil, abominável, detestável e horrível o abraço feminino! Mas agora, nesta noite, enquanto estamos acordados, novamente tratando do mesmo assunto, sentiste que eras lisonjeado por aquelas imaginadas carícias e amarga suavidade, de maneira diferente do que presumiras, certamente muito menos que o de costume, porém muito mais do que julgavas: para que, assim, aquEle secretíssimo médico te mostrasse  ambas as coisas: do que escapaste e o que ainda resta para ser curado.


A — Por favor, cala-te, cala-te. Por que me atormentas, por que escavas tanto e vais tão profundo? Já não aguento chorar tanto, já não prometo nada, não presumo mais nada; não me pergunte mais a respeito dessas coisas. Corretamente disseste que aquEle, a quem desejo ardentemente ver, sabe quando estarei curado; faça Ele o que Lhe aprouver; confio-me totalmente à Sua clemência e ao Seu cuidado. De uma vez para sempre acredito que Ele não deixará de levantar os que assim se dispõem em relação a Ele. Não falarei nada mais a respeito de minha saúde senão quando contemplar aquEla beleza.


R — Não faças mais nada. Para de chorar e tem coragem. Já choraste demais e isto piorará a tua doença de peito. 


A — Queres que minhas lágrimas tenham fim quando não vejo limite para a minha miséria. Falas para eu cuidar da saúde do corpo quando sou consumido por esta doença? Mas se tens algum poder sobre mim, peço-te que tentes conduzir-me por alguns atalhos para que, em virtude de alguma aproximação daquEla luz que já posso tolerar, se fiz algum progresso, tenha repugnância a voltar os olhos às trevas que abandonei, se é que possam ser consideradas como abandonadas, já que ainda ousam acariciar a minha cegueira.
(Continua)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430)
¹ Posteriormente Agostinho comenta esta expressão não pretendendo dar pé a que pensem que ele professasse a doutrina de Porfírio: "É necessário fugir de tudo que é corporal". "Mas convém notar, afirma Agostinho, que não falei de todas as coisas sensíveis, mas destas coisas".

sexta-feira, 27 de abril de 2012

COMO E COM QUE ETAPAS SE APROFUNDA A SABEDORIA — SOLILÓQUIOS

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27/04/2012 (Sexta-feira))

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(continuação)
R — Vejamos agora até que ponto és amante da sabedoria, a qual desejas contemplar e possuir no olhar e abraço castíssimos, como ela é em si, sem nada interferindo, tal como ela não se mostra senão a seus pouquíssimos e bem selecionados amantes. Se tivesses um grande amor por alguma mulher bonita, mas ela descobrisse que amasses alguma outra além dela, com razão ela não se entregaria a ti. Então, não é verdade que a castíssima beleza da sabedoria só se mostrará se a amares apaixonadamente a ela?


A — Por que fico ainda balançando como um infeliz e sou separado por um miserável tormento? Já mostrei que não amo nenhuma outra coisa, isto é, aquilo que não se ama por si, não se ama. Mas amo somente a sabedoria por si mesma. Quanto as demais coisas, desejo que estejam comigo ou temo que me faltem por causa dela, isto é, a vida, a tranquilidade, os amigos. Que limite pode haver no amor aquela beleza na qual não somente não tenho inveja dos outros, mas procuro a muitos que a desejem comigo, a admirem comigo e comigo se deleitem nela, que tanto mais serão meus amigos, quanto mais ela, na qualidade de amada, torna-se mais comum a nós.


R — Realmente assim convém que sejam os amantes da sabedoria. A esses ela procura, cuja união é verdadeiramente casta e sem contaminação alguma. Mas não se chega a ela por um só caminho.¹ Pois cada um abarca aquele bem singular e verdadeiro de acordo com o seu estado de saúde e firmeza. Ela é uma espécie de luz inefável da mente. A luz comum, à medida que pode, nos indica como é aquela luz. Pois há alguns olhos tão sãos e vivos que, ao se abrirem, fixam-se no próprio sol sem nenhuma perturbação. Para esses a própria luz é, de algum modo, saúde, sem necessidade de alguém que lhes ensine, senão talvez apenas de alguma exortação. Para eles é suficiente crer, esperar, amar. Ao passo que outros são feridos pelo próprio brilho que desejam imensamente ver, mas, não conseguindo ver, com frequência retornam às trevas com prazer. A eles é perigoso querer mostrar o que ainda não têm possibilidade de contemplar, ainda que já possam ser considerados como sãos. Portanto, eles devem antes, ser exercitados e o seu amor por fim adiado e alimentado. Primeiramente, deve ser-lhes demonstradas certas coisas que não brilhem por si mesmas, mas que possam ser vistas mediante a luz, como as vestes ou a parede, ou semelhantes. Depois, aquilo que na realidade não brilha por si, mas adquire um fulgor mais belo através da luz, como o ouro, a prata e objetos semelhantes, mas não com tanta radiação ao ponto de ofuscar-lhes os olhos. Em seguida, talvez, aos poucos pode ser-lhes mostrado o fogo terreno, depois os astros, a lua, o fulgor da aurora e o resplendor do amanhecer. Assim cada um, de acordo com a condição de sua firmeza, habituando-se a essas coisas total ou parcialmente, mais cedo ou mais tarde contemplará o sol sem perturbação e com grande prazer. Ótimos professores procedem dessa maneira com os estudiosos da sabedoria que, embora sem perspicácia, já veem. Porque faz parte de um bom método pedagógico chegar à sabedoria com certa ordem, pois sem ordem quase não há confiabilidade na felicidade. Mas por hoje acho que já escrevemos o bastante. Devo cuidar da saúde.
(Continua)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
¹ Esta sentença é comentada por Agostinho em seu livro "Retratações", acrescentando que poderia ter sido expresso de melhor maneira, pois não há mais que um caminho que é Cristo (Jo 14,6). Mas, por outro lado, o Salmo fala: "Mostra-me, Senhor, Teus caminhos"(Sl 24,4).

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NADA SE DEVE DESEJAR SENÃO ENQUANTO LEVE AO SUMO BEM ( II ) — SOLILÓQUIOS

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26/04/2012 (Quinta-feira))

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(continuação)
Nada  se deve desejar senão enquanto leve ao sumo bem ( II ).


R — E se a presença deles atrapalhar o teu estudo? Não te empenharias e desejarias que não estivessem contigo, caso eles não pudessem se dedicar?


A — Confesso que sim.


R — Então, desejas a vida e a presença deles em si mesma, mas para chegar à sabedoria?


A — Concordo.


R — E quanto à tua própria vida, se tiveres certeza de que ela seja um impedimento para compreender a sabedoria, quererias que continuasse?


A — Eu a rejeitaria totalmente.


R — Se vieres a saber que, tanto deixando o corpo como vivendo nele, podes alcançar a sabedoria, cuidarias de usufruir disso que gosta, aqui ou na outra vida?


A — Não me preocuparia, desde que entendesse que nada de ruim me ocorresse que me fizesse retroceder do progresso que fiz.


R — Portanto, agora tens medo de morrer para não te envolver num mal maior pelo qual te seja tirado o conhecimento divino.


A — Não somente temo que me seja tirado, se é que adquiri algo, mas também que me seja fechado o acesso as coisas que ardentemente desejo conseguir, se bem que acredite que o que já tenho permanecerá comigo.


R — Por isso, desejas que esta vida permaneça, não por si mesma, mas por causa da sabedoria.


A — Isso mesmo.


R — Resta a dor do corpo que talvez, por sua intensidade, te inquietas.


A — Tenho muito medo da dor não por outra razão senão porque me impede a investigação. Nesses dias tenho sido atormentado por uma fortíssima dor de dentes, que não me permitia pensar senão nas coisas que já havia aprendido, mas me impedia completamente de aprender novas coisas, pois para isso é necessária toda a atenção. Contudo, parecia-me que, se aquele fulgor da verdade brilhasse em minha mente, não sentiria aquela dor ou certamente a suportaria como se fosse nada. Embora não tenha suportado algo maior e, com frequência, pensando em quantas dores mais fortes possam ocorrer-me, sou levado às vezes a concordar com Cornélio Celso, que afirma: "A sabedoria é o sumo bem e a dor do corpo é o sumo mal".¹ Nem me parece absurdo o seu raciocínio. Como diz, somos compostos de duas partes, isto é, de alma e corpo, das quais a primeira parte — a alma — é melhor; e a pior parte é o corpo; o sumo bem é o ótimo da melhor parte, e o sumo mal é o péssimo da pior parte. Na alma, o ótimo é a sabedoria, e no corpo, o péssimo é a dor. Portanto, sem nenhuma falsidade (segundo me parece) conclui-se que o sumo bem do homem é o saber, e o sumo mal é sentir a dor. 


R — Mais adiante veremos essas coisas. Talvez, a própria sabedoria, em cuja consecução nos empenhamos, nos convencerá de outra coisa. Mas se ela mostrar que isto é verdadeiro, então aceitaremos esta afirmação a respeito do sumo bem ou do sumo mal.
(Continua)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
¹ Cornélio Celso foi homem muito culto, que escreveu um compêndio de tudo o que se havia feito e progredido na medicina desde Hipócrates até a sua época (anos 40-30 a.C). Agostinho depois retifica este conceito em função do mistério do sofrimento na cruz do Cristo.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

NADA SE DEVE DESEJAR SENÃO ENQUANTO LEVE AO SUMO BEM — SOLILÓQUIOS

http://criadoreumso.blogspot.com
25/04/2012 (Quarta-feira))

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QUEM CONVERSA, DE FATO, COM AGOSTINHO? SEU "EU" SUPERIOR? SEU ANJO DA GUARDA? NÃO É UM DIÁLOGO, CONFORME ELE — É UM SOLILÓQUIO.


(continuação)


Nada  se deve desejar senão enquanto leve ao sumo bem.


R – Por que desejas que aqueles a quem amas vivam ou convivam contigo?


A — Para em comum estudar nossas almas a Deus Assim, aquele que primeiro chegar a alguma conclusão facilmente a comunica aos outros.


R — E se eles não quiserem dedicar-se a esse estudo?


A — Convencê-los-ei para que queiram.


R — E se não conseguires convencê-los, seja porque já sabiam, seja porque acham que não conseguirão chegar a conclusões a esse respeito, seja ainda porque também estejam ocupados em outros negócios ou desejos?


A — Nesse caso, estarei com eles, e eles comigo da maneira que nos seja possível.
(continua)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430).

sábado, 21 de abril de 2012

USO CORRETO DOS BENS EXTERIORES — SOLILÓQUIOS

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21/04/2012 (Sábado)

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(continuação)
Uso correto dos bens exteriores.


R — Progrediste muito. Contudo, o que resta é um grande obstáculo para ver aquela luz. Mas apresento-te algo que me parece fácil mostrar: ou nada nos resta a dominar, ou não progredimos absolutamente em nada e permanece o veneno de todas aquelas coisas que acreditávamos estavam extirpadas. Pois te pergunto, se de alguma outra forma fores convencido de que não possas viver dedicado ao estudo da sabedoria em companhia dos teus que te são muito caros, sem o suporte de algum grande patrimônio familiar que sustente tuas necessidades, não desejarias as riquezas e optarias por elas?


A — Concordo que sim.


R — E se também se apresentar a oportunidade em que possas transmitir sabedoria a muitas pessoas, desde que tua autoridade seja acrescida de honra e que teus próprios familiares não possam moderar tuas ambições e dedicar-te totalmente à procura de Deus, se também eles não forem possuidores de honras, e que isto não se pode conseguir senão por meio das honras e dignidade que tu tenhas, não se deve desejar essas coisas e empenhar-se para que elas ocorram?


A – Concordo contigo.


R — Sobre a esposa já não discuto, pois talvez não haja essa necessidade de casar-se. Mas se tiveres certeza de que com o grande patrimônio dela possas sustentar todos aqueles que gostarias que estivessem em tua companhia no estudo, e ela concordasse com isso, principalmente se possuir tal nobreza de estirpe que possas, através dela, obter facilmente aquelas honras que, como concordaste,  são necessárias, não sei se terias obrigação de menosprezar tudo isso.


A — Mas como posso esperar tais coisas?


R — Dizes isso como se eu agora estivesse inquirindo sobre o que esperas. Não pergunto sobre o que, se for negado, deixa de trazer prazer, mas sobre aquilo que, se for oferecido, traz prazer. Uma coisa é quando uma doença contagiosa é erradicada, e outra, quando ela está adormecida. A propósito, vale o que foi dito, por alguns eruditos: que todos os ignorantes são insensatos, como toda lama cheira mal;  o que nem sempre ocorre a não ser que se mexa. Interessa muito se a cobiça é esmagada pelo desespero da alma ou se é repelida pela saúde.


A — Embora não possa te responder, entretanto jamais me convencerás que não tenha feito progressos,  pelo menos com esta disposição de ânimo que sinto ter agora.


R — Creio que tens esta opinião porque, embora possas desejar essas coisas, entretanto elas parecem desejáveis não em si mesmas, mas por causa de outra coisa.


A – É o que eu queria dizer; pois quando desejei riquezas,  desejei-as para ser rico. As próprias honras, cujo desejo, como disse, presentemente dominei, não sei que brilho elas tinham do qual eu queria deleitar-me; e nada mais procurei na mulher, quando o procurei, senão o prazer com a boa fama. Na época havia em mim verdadeira paixão por essas coisas, que agora menosprezo totalmente. Mas, se para chegar ao que desejo, não me é dado outro caminho senão através dessas coisas, então não as desejo para abraça-las, mas sujeito-me a tolerá-las.


R — Muito bem. Tampouco eu acho que se deva denominar de cobiça o desejo de coisas que se requerem em função de outra coisa.
(Continua)


(Por Aurelius Augustinus *354 +430).

EU VIM AQUI PARA TE DIZER QUE

TE AMO, IRMÃO; TE AMO IRMÀ
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