09/05/2012 (Quarta-feira)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
(Continuação)
De onde o verdadeiro ou o falso.
A — Falas corretamente. Mas não vejo bem o que eu tenha concedido de maneira incorreta, a não ser, talvez, quando concordei que se chama falso aquilo que tem alguma semelhança com o verdadeiro, porque nada mais me ocorre que mereça o nome de falso. Por outro lado, devo confessar que as coisas que se dizem falsas o são à medida que diferem das coisas verdadeiras. Do que se conclui que a própria dessemelhança é causa da falsidade. Por isso, fico confuso, pois não me ocorre facilmente algo à mente que provenha de causas contrárias.
R — De mais a mais, que dizer se houver um gênero único na natureza das coisas e somente este seja assim? Por acaso, considerando as inumeráveis espécies de animais, desconheces que o crocodilo é o único que move a mandíbula superior para mastigar, principalmente que quase não se pode encontrar algo que seja de tal modo semelhante e alguma coisa que não seja também dessemelhante em algo?
A — Sei disso. Mas quando reflito sobre o que chamamos falso e que tem algo de semelhante e dessemelhante com o verdadeiro, não consigo discernir de qual dessas duas relações lhe veio o nome de falso. Porque, se eu disser que é por causa da dessemelhança, então pode-se dizer que tudo é falso, pois não existe nada que não seja dessemelhante em relação a alguma coisa que se concede como verdadeira. Igualmente, se eu disser que se chama falso pelo fato de ser semelhante, então não só protestarão os ovos que são verdadeiros pelo mesmo fato de serem muito semelhantes, mas também nem poderei escapar de quem me forçar a admitir que tudo é falso, pois não posso negar que todas as coisas, de algum modo, são semelhantes. Mas, supondo que não tema em responder que a semelhança e a dessemelhança juntas fazem com que algo justamente se denomine falso, que saída vês para mim? Entretanto, insistirão que declare que todas as coisas são falsas, pois todas as coisas, como foi dito acima, de algum modo são semelhantes e dessemelhantes entre si. Restaria que dissesse que nada mais é falso a não ser aquilo que, de outra forma, se tivesse como tal e assim parecesse, como se não temesse todos aqueles fenômenos que eu julgava estivessem me desviando do caminho. Desse modo, novamente sou impelido por um redemoinho inesperado a dizer que é verdadeiro aquilo que é como parece. Daí se conclui que, sem um sujeito conhecedor, nada pode haver de verdadeiro. Aqui há um naufrágio a temer por causa dos recifes não percebidos, que são verdadeiros embora não sejam conhecidos. Ou, se disser que a verdade é aquilo que é, concluir-se-á sem nenhuma discordância que o falso não está em parte alguma. Pelo que voltam aquelas indecisões e nem vejo com clareza que eu tenha progredido, não obstante tanta paciência das suas insistências.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
(Continuação)
De onde o verdadeiro ou o falso.
A — Falas corretamente. Mas não vejo bem o que eu tenha concedido de maneira incorreta, a não ser, talvez, quando concordei que se chama falso aquilo que tem alguma semelhança com o verdadeiro, porque nada mais me ocorre que mereça o nome de falso. Por outro lado, devo confessar que as coisas que se dizem falsas o são à medida que diferem das coisas verdadeiras. Do que se conclui que a própria dessemelhança é causa da falsidade. Por isso, fico confuso, pois não me ocorre facilmente algo à mente que provenha de causas contrárias.
R — De mais a mais, que dizer se houver um gênero único na natureza das coisas e somente este seja assim? Por acaso, considerando as inumeráveis espécies de animais, desconheces que o crocodilo é o único que move a mandíbula superior para mastigar, principalmente que quase não se pode encontrar algo que seja de tal modo semelhante e alguma coisa que não seja também dessemelhante em algo?
A — Sei disso. Mas quando reflito sobre o que chamamos falso e que tem algo de semelhante e dessemelhante com o verdadeiro, não consigo discernir de qual dessas duas relações lhe veio o nome de falso. Porque, se eu disser que é por causa da dessemelhança, então pode-se dizer que tudo é falso, pois não existe nada que não seja dessemelhante em relação a alguma coisa que se concede como verdadeira. Igualmente, se eu disser que se chama falso pelo fato de ser semelhante, então não só protestarão os ovos que são verdadeiros pelo mesmo fato de serem muito semelhantes, mas também nem poderei escapar de quem me forçar a admitir que tudo é falso, pois não posso negar que todas as coisas, de algum modo, são semelhantes. Mas, supondo que não tema em responder que a semelhança e a dessemelhança juntas fazem com que algo justamente se denomine falso, que saída vês para mim? Entretanto, insistirão que declare que todas as coisas são falsas, pois todas as coisas, como foi dito acima, de algum modo são semelhantes e dessemelhantes entre si. Restaria que dissesse que nada mais é falso a não ser aquilo que, de outra forma, se tivesse como tal e assim parecesse, como se não temesse todos aqueles fenômenos que eu julgava estivessem me desviando do caminho. Desse modo, novamente sou impelido por um redemoinho inesperado a dizer que é verdadeiro aquilo que é como parece. Daí se conclui que, sem um sujeito conhecedor, nada pode haver de verdadeiro. Aqui há um naufrágio a temer por causa dos recifes não percebidos, que são verdadeiros embora não sejam conhecidos. Ou, se disser que a verdade é aquilo que é, concluir-se-á sem nenhuma discordância que o falso não está em parte alguma. Pelo que voltam aquelas indecisões e nem vejo com clareza que eu tenha progredido, não obstante tanta paciência das suas insistências.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
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