10/05/2012 (Quinta-feira)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
(Continuação)
Que é falso, enganador e mentiroso.
R — Então, atenção, pois de modo algum me deixarei levar por alguma insinuação que tenhamos implorado o auxílio divino em vão. Vejo que, depois de analisar todas as coisas, só resta dizer que é falso aquilo que se apresenta ser como sendo o que não é ou inteiramente tende a ser, e não o é. Mas o maior gênero de falso é o enganador ou o mentiroso. Pois chama-se enganador o que tem certo desejo de enganar, desejo este que não se estende sem a alma, e se realiza em parte pela razão em parte pela natureza: pela razão nos animais racionais, como no homem; pela natureza nos irracionais, como na raposa. O que chamo mendaz, mentiroso, existe nos que mentem. Estes diferem dos falazes, enganadores, pois todo falaz deseja enganar, ao passo que nem todo aquele que mente deseja enganar. As representações teatrais com mímicas, as comédias e muitos poemas são repletos de ficções, criadas mais por razão de lazer que por vontade de enganar. Como também quase todos os que contam piadas mentem. Mas falaz ou enganador, na verdadeira acepção da palavra, é aquele cujo intuito é que alguém se engane. Os que não agem com o intuito de enganar, mesmo que imaginem algo, são apenas mentirosos; podem até não chegar a tanto, mas ninguém duvida em chamá-los mentirosos. Tens algo a dizer contra?
A — Continua. Talvez agora começaste a falar coisas não falsas a respeito das coisas falsas. Mas espero ouvir mais a respeito do que disseste acima, isto é: tende a ser, e não o é.
R — Esperar o quê? São as mesmas coisas, muitas das quais mencionamos antes. Não te parece que a a tua imagem que se reflete no espelho quer ser tu mesmo e é falsa pelo fato de não o ser?
A — Realmente parece.
R — E que dizer da pintura, qualquer tipo de estátua e coisas desse gênero, tudo obra de artistas, por acaso cada coisa não se apresenta como sendo aquilo a cuja semelhança foi feita?
A — Estou inteiramente de acordo.
R — Acho que estás de acordo que tudo que ocorre com as pessoas, pelo qual elas se enganam enquanto estão dormindo ou estejam delirando, pertence a esse gênero de coisas.
A — Nada mais que isso. Essas coisas tendem a ser aquilo que os que estão acordados ou com saúde discernem. Contudo, são coisas falsas precisamente pelo fato de não poderem ser aquilo que representam.
R — Que mais poderia dizer do movimento das torres dos faróis no mar, ou do remo submerso, ou das sombras dos corpos? Parece-me evidente que se deve avaliar pelo mesmo parâmetro.
A — Muito evidente.
R — Não falo dos demais sentidos, pois não há ninguém que, refletindo, não chegue a esta conclusão, isto é, chama-se falso, nas mesmas coisas que sentimos, aquilo que tende a ser algo, e não o é.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
(Continuação)
Que é falso, enganador e mentiroso.
R — Então, atenção, pois de modo algum me deixarei levar por alguma insinuação que tenhamos implorado o auxílio divino em vão. Vejo que, depois de analisar todas as coisas, só resta dizer que é falso aquilo que se apresenta ser como sendo o que não é ou inteiramente tende a ser, e não o é. Mas o maior gênero de falso é o enganador ou o mentiroso. Pois chama-se enganador o que tem certo desejo de enganar, desejo este que não se estende sem a alma, e se realiza em parte pela razão em parte pela natureza: pela razão nos animais racionais, como no homem; pela natureza nos irracionais, como na raposa. O que chamo mendaz, mentiroso, existe nos que mentem. Estes diferem dos falazes, enganadores, pois todo falaz deseja enganar, ao passo que nem todo aquele que mente deseja enganar. As representações teatrais com mímicas, as comédias e muitos poemas são repletos de ficções, criadas mais por razão de lazer que por vontade de enganar. Como também quase todos os que contam piadas mentem. Mas falaz ou enganador, na verdadeira acepção da palavra, é aquele cujo intuito é que alguém se engane. Os que não agem com o intuito de enganar, mesmo que imaginem algo, são apenas mentirosos; podem até não chegar a tanto, mas ninguém duvida em chamá-los mentirosos. Tens algo a dizer contra?
A — Continua. Talvez agora começaste a falar coisas não falsas a respeito das coisas falsas. Mas espero ouvir mais a respeito do que disseste acima, isto é: tende a ser, e não o é.
R — Esperar o quê? São as mesmas coisas, muitas das quais mencionamos antes. Não te parece que a a tua imagem que se reflete no espelho quer ser tu mesmo e é falsa pelo fato de não o ser?
A — Realmente parece.
R — E que dizer da pintura, qualquer tipo de estátua e coisas desse gênero, tudo obra de artistas, por acaso cada coisa não se apresenta como sendo aquilo a cuja semelhança foi feita?
A — Estou inteiramente de acordo.
R — Acho que estás de acordo que tudo que ocorre com as pessoas, pelo qual elas se enganam enquanto estão dormindo ou estejam delirando, pertence a esse gênero de coisas.
A — Nada mais que isso. Essas coisas tendem a ser aquilo que os que estão acordados ou com saúde discernem. Contudo, são coisas falsas precisamente pelo fato de não poderem ser aquilo que representam.
R — Que mais poderia dizer do movimento das torres dos faróis no mar, ou do remo submerso, ou das sombras dos corpos? Parece-me evidente que se deve avaliar pelo mesmo parâmetro.
A — Muito evidente.
R — Não falo dos demais sentidos, pois não há ninguém que, refletindo, não chegue a esta conclusão, isto é, chama-se falso, nas mesmas coisas que sentimos, aquilo que tende a ser algo, e não o é.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
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