08/05/2012 (Terça-feira)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
SANTO AGOSTINHO ESCLARECE, ENFIM, ASSUMINDO SEU IRREVERENTE DIÁLOGO CONSIGO MESMO — O SOLILÓQUIO. O MÉTODO DE PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA ESCLARECER QUESTÕES POLÍTICAS, SOCIAIS E METAFÍSICAS, ENTRE OUTRAS, ERA PRÁTICA COMUM DO FILÓSOFO SÓCRATES. O QUE HOJE SERIA UM SINAL DE CERTA ESQUIZOFRENIA, OU PRETENSÃO DO AUTOR, DEU CERTO COM ESTE SÁBIO SANTO.
(Continuação)
Verossímil. O nome solilóquios.
R — Agora, atenção enquanto recapitulamos as mesmas coisas, para que se torne mais claro o que tentamos mostrar.
A — Aqui estou, fala o que quiseres. Pois decidi tolerar esses rodeios e não vou me cansar com isso, com tanta esperança de chegarmos aonde sinto que nos dirigimos.
R — Está bem. Mas parece-te que, quando vemos ovos semelhantes, podemos dizer que algum desses ovos seja falso?
A — De modo algum. Pois todos eles, se são ovos, são ovos verdadeiros.
R — E quanto à imagem que vemos refletir no espelho, quais são os sinais pelos quais deduzimos que ela é falsa?
A — Porque não se pode pegar, não emite voz, não se move por si mesma, não vive, e muitas outras coisas, que seria longo enumerar.
R — Vejo que não queres demorar-te e tenho de ceder à tua pressa. Por isso, para não repetir cada coisa que foi dita, por acaso diríamos que são falsos os homens que vemos em sonhos, mas que pudessem viver, falar, ser tocados pelas pessoas acordadas, sem nenhuma diferença entre eles e aqueles com quem conversamos e vemos quando estamos acordados?
A — Como se poderia afirmar tal coisa?
R — Portanto, se fossem tanto mais verdadeiros, quanto mais semelhantes aparecem, sem nenhuma diferença entre eles e os verdadeiros, se fossem tanto mais falsos, quanto mais se comprovassem desiguais por aquelas e outras diferenças, então não se deve afirmar que a semelhança é a fonte da verdade e a dessemelhança, a fonte da falsidade?
A — Não tenho o que dizer e me envergonho por ter temerariamente concordado com as afirmações anteriores.
R — É ridículo envergonhar-te, como se não tivéssemos escolhido este método de discussão. Por serem conversações a sós entre nós, quero denominá-las e dar-lhes o título de SOLILÓQUIOS, certamente um título novo e, talvez, seco, mas bastante adequado para indicar o nosso estilo. Pois uma vez que não há melhor método pelo qual a verdade possa ser investigada do que perguntando e respondendo, raramente se encontra alguém que não se envergonhe ao ser convencido em discussão. E quase sempre acontece que a gritaria de uma teimosia confusa comece a vaiar um assunto bem introduzido à discussão, até mesmo com ofensa às pessoas, ora de maneira dissimulada ora abertamente. Entretanto, com a ajuda de Deus, pareceu-me bom investigar a verdade de maneira muito tranquila e conveniente, segundo me parece, perguntando-me e respondendo a mim mesmo. Por isso, não há nada de que te envergonhar. Se em algum ponto te enredaste temerariamente, deve-se voltar atrás e solucionar; do contrário, não se pode sair disso.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
Verossímil. O nome solilóquios.
R — Agora, atenção enquanto recapitulamos as mesmas coisas, para que se torne mais claro o que tentamos mostrar.
A — Aqui estou, fala o que quiseres. Pois decidi tolerar esses rodeios e não vou me cansar com isso, com tanta esperança de chegarmos aonde sinto que nos dirigimos.
R — Está bem. Mas parece-te que, quando vemos ovos semelhantes, podemos dizer que algum desses ovos seja falso?
A — De modo algum. Pois todos eles, se são ovos, são ovos verdadeiros.
R — E quanto à imagem que vemos refletir no espelho, quais são os sinais pelos quais deduzimos que ela é falsa?
A — Porque não se pode pegar, não emite voz, não se move por si mesma, não vive, e muitas outras coisas, que seria longo enumerar.
R — Vejo que não queres demorar-te e tenho de ceder à tua pressa. Por isso, para não repetir cada coisa que foi dita, por acaso diríamos que são falsos os homens que vemos em sonhos, mas que pudessem viver, falar, ser tocados pelas pessoas acordadas, sem nenhuma diferença entre eles e aqueles com quem conversamos e vemos quando estamos acordados?
A — Como se poderia afirmar tal coisa?
R — Portanto, se fossem tanto mais verdadeiros, quanto mais semelhantes aparecem, sem nenhuma diferença entre eles e os verdadeiros, se fossem tanto mais falsos, quanto mais se comprovassem desiguais por aquelas e outras diferenças, então não se deve afirmar que a semelhança é a fonte da verdade e a dessemelhança, a fonte da falsidade?
A — Não tenho o que dizer e me envergonho por ter temerariamente concordado com as afirmações anteriores.
R — É ridículo envergonhar-te, como se não tivéssemos escolhido este método de discussão. Por serem conversações a sós entre nós, quero denominá-las e dar-lhes o título de SOLILÓQUIOS, certamente um título novo e, talvez, seco, mas bastante adequado para indicar o nosso estilo. Pois uma vez que não há melhor método pelo qual a verdade possa ser investigada do que perguntando e respondendo, raramente se encontra alguém que não se envergonhe ao ser convencido em discussão. E quase sempre acontece que a gritaria de uma teimosia confusa comece a vaiar um assunto bem introduzido à discussão, até mesmo com ofensa às pessoas, ora de maneira dissimulada ora abertamente. Entretanto, com a ajuda de Deus, pareceu-me bom investigar a verdade de maneira muito tranquila e conveniente, segundo me parece, perguntando-me e respondendo a mim mesmo. Por isso, não há nada de que te envergonhar. Se em algum ponto te enredaste temerariamente, deve-se voltar atrás e solucionar; do contrário, não se pode sair disso.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
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