04/05/2012 (Sexta-feira)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
QUEM CONVERSA, DE FATO, COM AGOSTINHO? SEU "EU" SUPERIOR? SEU ANJO DA GUARDA? NÃO É UM DIÁLOGO, CONFORME ELE — É UM SOLILÓQUIO.
(continuação)
Perpetuidade da falsidade ou da verdade.
A — Que argumento fraco! Se eu tivesse concedido que este mundo não pode subsistir sem o homem, poderias até concluir que o homem é imortal e que o mundo é eterno.
R — Realmente, estás atento. Contudo, não é pouco o que conseguimos: que a natureza das coisas não pode existir sem a alma, a menos que às vezes não haja falsidade na natureza das coisas.
A — Admito que isto realmente tem lógica. Mas sou de opinião que se deve ponderar ainda mais para ver se não são duvidosas as posições concedidas anteriormente, pois percebo que não é pouco o que foi feito no sentido da imortalidade da alma.
R — Não refletiste bastante para não concordar temerariamente com alguma coisa?
A — Certamente que sim e não vejo em que eu seja arguido de temeridade.
R — Conclui-se, então, que a natureza das coisas não pode existir sem a alma viva.
A — Concluiu-se até agora que alternadamente umas possam nascer, outras morrer.
R — E se a falsidade for eliminada da natureza das coisas, não é possível que todas as coisas sejam verdadeiras?
A — Acho que há consequência nisto.
R — Responda-me: com base em que lhe parece ser verdadeira esta parede?
A — Porque não me engano ao observá-la.
R — Portanto, porque é igual ao que parece.
A — Sim.
R — Por conseguinte, se é falso aquilo que parece diferente do que é e se é verdadeiro aquilo que se parece como o é, neste caso, abstraindo-se daquele a quem parece, não há nem falsidade nem verdade. Ora, se não há falsidade na natureza das coisas, todas as coisas são verdadeiras. Nada pode ser visto senão a alma viva. Por isso, a alma permanece na natureza das coisas se a falsidade não pode ser eliminada e permanece também, ainda que possa ser eliminada.
A — Vejo que vai adquirindo maior força aquilo que havia sido concluído, mas em nada adiantamos com este acréscimo. Não obstante, permanece o que mais me interessa: que as almas nascem e perecem e que elas se originam não de sua imortalidade, mas pela sucessão, para que não faltem ao mundo.
R — Achas que as coisa corpóreas, isto é, sensíveis, podem ser abarcadas pelo entendimento?
A — Não me parece.
R — E achas que Deus usa de sentidos para conhecer as coisas?
A — A respeito disto não ouso afirmar nada temerariamente; mas quando me é dado supor, de modo algum Deus usa de sentidos.
R — Logo, concluímos que somente a alma pode sentir.
A — Por enquanto, conclua como provável.
R — E concordas que esta parede, se não é verdadeira, não é uma parede?
A — Nada mais fácil de concordar.
R — E que nada é corpo se não for verdadeiro corpo?
A — Também concordo com isso.
R — Portanto, se nada é verdadeiro se não for realmente como parece e o que é corpóreo só pode ser percebido pelos sentidos, e que não se sente senão pela alma e que não é corpo se não for verdadeiro corpo, resta concluir que o corpo não pode existir se não houver alma.
A — Insistes demais e não tenho o que contradizer.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430)
Perpetuidade da falsidade ou da verdade.
A — Que argumento fraco! Se eu tivesse concedido que este mundo não pode subsistir sem o homem, poderias até concluir que o homem é imortal e que o mundo é eterno.
R — Realmente, estás atento. Contudo, não é pouco o que conseguimos: que a natureza das coisas não pode existir sem a alma, a menos que às vezes não haja falsidade na natureza das coisas.
A — Admito que isto realmente tem lógica. Mas sou de opinião que se deve ponderar ainda mais para ver se não são duvidosas as posições concedidas anteriormente, pois percebo que não é pouco o que foi feito no sentido da imortalidade da alma.
R — Não refletiste bastante para não concordar temerariamente com alguma coisa?
A — Certamente que sim e não vejo em que eu seja arguido de temeridade.
R — Conclui-se, então, que a natureza das coisas não pode existir sem a alma viva.
A — Concluiu-se até agora que alternadamente umas possam nascer, outras morrer.
R — E se a falsidade for eliminada da natureza das coisas, não é possível que todas as coisas sejam verdadeiras?
A — Acho que há consequência nisto.
R — Responda-me: com base em que lhe parece ser verdadeira esta parede?
A — Porque não me engano ao observá-la.
R — Portanto, porque é igual ao que parece.
A — Sim.
R — Por conseguinte, se é falso aquilo que parece diferente do que é e se é verdadeiro aquilo que se parece como o é, neste caso, abstraindo-se daquele a quem parece, não há nem falsidade nem verdade. Ora, se não há falsidade na natureza das coisas, todas as coisas são verdadeiras. Nada pode ser visto senão a alma viva. Por isso, a alma permanece na natureza das coisas se a falsidade não pode ser eliminada e permanece também, ainda que possa ser eliminada.
A — Vejo que vai adquirindo maior força aquilo que havia sido concluído, mas em nada adiantamos com este acréscimo. Não obstante, permanece o que mais me interessa: que as almas nascem e perecem e que elas se originam não de sua imortalidade, mas pela sucessão, para que não faltem ao mundo.
R — Achas que as coisa corpóreas, isto é, sensíveis, podem ser abarcadas pelo entendimento?
A — Não me parece.
R — E achas que Deus usa de sentidos para conhecer as coisas?
A — A respeito disto não ouso afirmar nada temerariamente; mas quando me é dado supor, de modo algum Deus usa de sentidos.
R — Logo, concluímos que somente a alma pode sentir.
A — Por enquanto, conclua como provável.
R — E concordas que esta parede, se não é verdadeira, não é uma parede?
A — Nada mais fácil de concordar.
R — E que nada é corpo se não for verdadeiro corpo?
A — Também concordo com isso.
R — Portanto, se nada é verdadeiro se não for realmente como parece e o que é corpóreo só pode ser percebido pelos sentidos, e que não se sente senão pela alma e que não é corpo se não for verdadeiro corpo, resta concluir que o corpo não pode existir se não houver alma.
A — Insistes demais e não tenho o que contradizer.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430)
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