12/06/2012 (Terça-feira)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E A VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
(Continuação)
Toda carência equivale a uma infelicidade
A indigência da alma (animi egestas) não é, portanto, outra coisa do que estultícia (stultitia). E essa é o oposto da sabedoria, como a morte o é da vida, e a felicidade da infelicidade. Entre esses diversos estados não há meio-termo. Com efeito, todo aquele que não é feliz é infeliz. E se todo o que não está morto é vivo, do mesmo modo, evidentemente, todo o que não é insensato (stultus) é sábio. Isso nos permite agora concluir que aquele Sérgio Orata foi infeliz, não tanto porque temia a perda dos seus bens, mas por estar privado da sabedoria. E seria mais infeliz ainda se em meio àquelas coisas tão fugazes e perecíveis — por ele consideradas como bens — vivesse totalmente sem receio algum. Pois sua segurança, ele a teria, não graças a corajosa vigilância, mas devido ao embotamento de sua mente, mergulhada em profunda estupidez (stultutia). Se alguém, privado de sabedoria, padece de grande carência (egestatem), entretanto nada falta a quem possui a sabedoria. Segue-se que a estupidez é verdadeira carência. Ora, como todo insensato é infeliz, do mesmo modo todo infeliz é insensato. Assim, pois, está demonstrado como toda carência equivale a infelicidade, e do mesmo modo toda infelicidade implica carência.
Todo infeliz é indigente
Como Trigésio declarasse não haver compreendido bem essa conclusão, perguntei-lhe:
— O que acaba a razão de nos demonstrar?
— Que está em carência quem não possui sabedoria
— E no que consiste essa carência?
Como ele calasse, retorqui:
— Não será talvez viver como insensato? (habere stultutiam?)
— É isso.
— Por conseguinte, estar sujeito à carência nada mais é do que ser insensato. Segue-se que seria necessário denominar a carência com outro termo, quando se tratar da estupidez (stultitia). E, no entanto, dizemos, não sei por que: "Ele está na indigência" e "Ele é insensato". É como se disséssemos a respeito de um quarto escuro, que possui as trevas, equivalendo a: não possui a luz. Pois não são as trevas que vêm ou se retiram, mas, sim, a luz. Haver privação de luz é o mesmo que existirem trevas. Exatamente como: "estar sem roupa" é estar na nudez. Pois a nudez não foge como algo capaz de se mover à chegada das roupas! Assim, quando dizemos de alguém: "Está carente" é como se disséssemos: "Está nu". A carência ou indigência(egestas) é palavra que significa "não possuir". E para explicar melhor o meu pensamento, diz-se de alguém: "Ele é indigente", no mesmo sentido do que: "Ele nada tem". Assim, pois, já está demonstrado que a estultícia consiste, precisamente, em verdadeira e autêntica indigência (da alma). Verificai, agora, se a questão levantada está resolvida. Com efeito, perguntávamos se pela palavra "infelicidade" (miseriam) designávamos apenas a indigência (da alma). Ora, provamos que é com razão que se afirma ser a estultícia uma indigência. Portanto, equivalem-se. Logo, como todo insensato é infeliz (miser), e todo infeliz insensato, assim também todo indigente é infeliz e todo infeliz indigente. E pelo fato de todo insensato ser infeliz e todo infeliz néscio (stultus), segue-se que a indigência é infelicidade. Então por que não haveremos de concluir já que a infelicidade e a indigência se identificam, pois todo indigente é infeliz e todo infeliz, indigente?
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
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