02/06/2012 (Sábado)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E A VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
(Continuação)
O festim do aniversário:
Nessas condições, já que estamos de acordo que o homem consta de dois elementos, a saber, corpo e alma, parece-me que para o dia do aniversário de meu nascimento devo oferecer não somente para os corpos, mas também para as almas, uma refeição um tanto mais abundante. Qual será esse festim, explicá-lo-ei, só se sentirdes apetite para ele. Pois seria inútil e perda de tempo querer vos nutrir, se houvesse resistência e má vontade. Façamos, portanto, votos para que sintais o apetite do espírito para esse alimento, e seja ele superior ao apetite do corpo. É o que acon tecerá se a vossa alma estiver sadia, visto que os enfermos, como justamente vimos a respeito dos que sofrem de doenças físicas, recusam alimentar-se.
Todos se manifestaram alegres, dando o consentimento, pela voz e gestos. Declaram-se prontos a tomar e devorar tudo o que eu lhes tivesse preparado.
QUESTÃO: SOMOS FELIZES POR POSSUIRMOS O QUE QUEREMOS?
Retomando, prossegui:
— Queremos todos ser felizes?
Apenas havia pronunciado tais palavras que a uma só voz e espontaneamente aprovaram.
— E o que vos parece: quem não tem o que quer é feliz?
— Não, responderam em uníssono.
— Como? Mas então, quem tem o que quer será feliz?
— Minha mãe nesse ínterim, tomou a palavra:
— Sim, se for o bem que ele apetece e possui, será feliz. Mas, se forem coisas más, ainda que as possua, será desgraçado.
Sorrindo, e deixando transparecer minha alegria, disse à minha mãe:
— Alcançaste, decididamente, o cume da Filosofia. Pois, sem dúvida alguma, para exprimir teu pensamento apenas te faltaram as palavras de Cícero. Eis como se expressou ele no "Hortêncio", obra composta para o louvor e a defesa da Filosofia:
"Há certos homens — certamente não filósofos, pois sempre prontos a discordar — que pretendem ser felizes todos aqueles que vivem a seu bel-prazer. Mas tal é falso, de todos os pontos de vista, porque não há desgraça pior do que querer o que não convém. És menos infeliz por não conseguires o que queres, do que por ambicionar obter algo inconveniente. De fato, a malícia da vontade ocasiona ao homem males maiores do que a fortuna pode lhe trazer de bens".
A essas palavras, minha mãe proferiu tal exclamação que, olvidando de todo o seu sexo, parecia-nos ver alguma grande personagem assentada entre nós. Compreendia eu, no entanto, quanto me era dado, de que fonte divina ela hauria essa sabedoria. Licêncio pediu-me então:
— Deves dizer-nos agora o que é necessário para sermos felizes e quais as coisas que podemos desejar para chegar à felicidade.
— Convidar-me ás, repliquei, se o quiseres, para uma ceia no teu aniversário. Tomarei então de boa vontade o que me apresentares. Nessa mesma disposição, convido-te, hoje, à minha mesa. Não peças, pois, manjares que talvez não tenham sido preparados.
Tendo Licêncio se desculpado por ter dado ocasião a essa pequena e discreta advertência, retomei:
— Portanto, está entendido, entre nós, que ninguém pode ser feliz sem possuir o que deseja e, por outro lado, não basta aos que já possuem ter o ambicionado para serem felizes.
— Todos concordaram.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
O festim do aniversário:
Nessas condições, já que estamos de acordo que o homem consta de dois elementos, a saber, corpo e alma, parece-me que para o dia do aniversário de meu nascimento devo oferecer não somente para os corpos, mas também para as almas, uma refeição um tanto mais abundante. Qual será esse festim, explicá-lo-ei, só se sentirdes apetite para ele. Pois seria inútil e perda de tempo querer vos nutrir, se houvesse resistência e má vontade. Façamos, portanto, votos para que sintais o apetite do espírito para esse alimento, e seja ele superior ao apetite do corpo. É o que acon tecerá se a vossa alma estiver sadia, visto que os enfermos, como justamente vimos a respeito dos que sofrem de doenças físicas, recusam alimentar-se.
Todos se manifestaram alegres, dando o consentimento, pela voz e gestos. Declaram-se prontos a tomar e devorar tudo o que eu lhes tivesse preparado.
QUESTÃO: SOMOS FELIZES POR POSSUIRMOS O QUE QUEREMOS?
Retomando, prossegui:
— Queremos todos ser felizes?
Apenas havia pronunciado tais palavras que a uma só voz e espontaneamente aprovaram.
— E o que vos parece: quem não tem o que quer é feliz?
— Não, responderam em uníssono.
— Como? Mas então, quem tem o que quer será feliz?
— Minha mãe nesse ínterim, tomou a palavra:
— Sim, se for o bem que ele apetece e possui, será feliz. Mas, se forem coisas más, ainda que as possua, será desgraçado.
Sorrindo, e deixando transparecer minha alegria, disse à minha mãe:
— Alcançaste, decididamente, o cume da Filosofia. Pois, sem dúvida alguma, para exprimir teu pensamento apenas te faltaram as palavras de Cícero. Eis como se expressou ele no "Hortêncio", obra composta para o louvor e a defesa da Filosofia:
"Há certos homens — certamente não filósofos, pois sempre prontos a discordar — que pretendem ser felizes todos aqueles que vivem a seu bel-prazer. Mas tal é falso, de todos os pontos de vista, porque não há desgraça pior do que querer o que não convém. És menos infeliz por não conseguires o que queres, do que por ambicionar obter algo inconveniente. De fato, a malícia da vontade ocasiona ao homem males maiores do que a fortuna pode lhe trazer de bens".
A essas palavras, minha mãe proferiu tal exclamação que, olvidando de todo o seu sexo, parecia-nos ver alguma grande personagem assentada entre nós. Compreendia eu, no entanto, quanto me era dado, de que fonte divina ela hauria essa sabedoria. Licêncio pediu-me então:
— Deves dizer-nos agora o que é necessário para sermos felizes e quais as coisas que podemos desejar para chegar à felicidade.
— Convidar-me ás, repliquei, se o quiseres, para uma ceia no teu aniversário. Tomarei então de boa vontade o que me apresentares. Nessa mesma disposição, convido-te, hoje, à minha mesa. Não peças, pois, manjares que talvez não tenham sido preparados.
Tendo Licêncio se desculpado por ter dado ocasião a essa pequena e discreta advertência, retomei:
— Portanto, está entendido, entre nós, que ninguém pode ser feliz sem possuir o que deseja e, por outro lado, não basta aos que já possuem ter o ambicionado para serem felizes.
— Todos concordaram.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
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