31/05/2012 (Quinta-feira)
ILUMINE-SE!
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OS DIREITOS AUTORAIS DE "SOLILÓQUIOS E A VIDA FELIZ" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.
(Continuação)
Constamos de corpo e alma.
— Será evidente a cada um de vós, que somos compostos de alma e corpo? Todos foram concordes, exceto Navígio, que declarou não saber.
— Mas, disse-lhe eu, pensas que ignoras tudo em geral, ou essa proposição é uma entre outras coisas que desconheces?
— Não creio que sou totalmente ignorante, respondeu ele.
— Podes, pois, dizer-nos alguma coisa do que sabes?
— Sim, posso.
— Se isso não te incomoda, dize-nos, pois. E como ele hesitasse, interroguei:
— Sabes, pelo menos, que vives?
— Isso eu sei.
— Sabes, portanto, que tens vida, visto que ninguém pode viver a não ser que tenha vida?
— Isso também sei.
— Sabes, igualmente, que possuis um corpo? Ele concordou.
— Sabes, então, que constas de corpo e vida?
— Sim, todavia tenho dúvidas se não existe alguma coisa a mais do que isso.
— Assim, não duvidas destes dois pontos: possuis um corpo e uma alma. Mas estás em dúvida se não existe outra coisa que seria para o homem um complemento de perfeição.
— É isso. Concordou ele.
— O que poderia ser, procuremos em outra ocasião, sendo possível. Peço agora, já que todos estamos de acordo em reconhecer que não pode existir homem algum sem corpo e alma, dizerem-me para qual dos dois elementos desejamos o alimento?
— Para o corpo, exclamou Licêncio. Os demais, porém, duvidavam, perguntando-se de diversas maneiras como poderia o alimento ser necessário ao corpo, quando o procurávamos para viver, e a vida não depende senão da alma.
— Intervim, dizendo: — Parece-vos que o alimento é feito unicamente para a parte do homem que vemos crescer e fortificar-se por meio dele? Foram todos dessa mesma opinião, exceto Trigésio que declarou:
— Por que, então, não chego a crescer em proporção ao meu grande apetite?
— A natureza, expliquei, fixou aos corpos a dimensão à qual pode atingir, mas sequer atingiriam essa dimensão se lhes faltasse o alimento. Constatamos facilmente esse fato nos animais. Todos sabem que os corpos vivos, sejam quais forem, definham sem o alimento.
— Definham, mas não encurtam, retorquiu Licêncio.
– Já temos o bastante para o meu propósito, concluí. Pois a questão era saber se o alimento é para o corpo. Ora, não há dúvida sobre isso, porque se for suprimido o corpo definha.
Todos aprovaram.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).
Constamos de corpo e alma.
— Será evidente a cada um de vós, que somos compostos de alma e corpo? Todos foram concordes, exceto Navígio, que declarou não saber.
— Mas, disse-lhe eu, pensas que ignoras tudo em geral, ou essa proposição é uma entre outras coisas que desconheces?
— Não creio que sou totalmente ignorante, respondeu ele.
— Podes, pois, dizer-nos alguma coisa do que sabes?
— Sim, posso.
— Se isso não te incomoda, dize-nos, pois. E como ele hesitasse, interroguei:
— Sabes, pelo menos, que vives?
— Isso eu sei.
— Sabes, portanto, que tens vida, visto que ninguém pode viver a não ser que tenha vida?
— Isso também sei.
— Sabes, igualmente, que possuis um corpo? Ele concordou.
— Sabes, então, que constas de corpo e vida?
— Sim, todavia tenho dúvidas se não existe alguma coisa a mais do que isso.
— Assim, não duvidas destes dois pontos: possuis um corpo e uma alma. Mas estás em dúvida se não existe outra coisa que seria para o homem um complemento de perfeição.
— É isso. Concordou ele.
— O que poderia ser, procuremos em outra ocasião, sendo possível. Peço agora, já que todos estamos de acordo em reconhecer que não pode existir homem algum sem corpo e alma, dizerem-me para qual dos dois elementos desejamos o alimento?
— Para o corpo, exclamou Licêncio. Os demais, porém, duvidavam, perguntando-se de diversas maneiras como poderia o alimento ser necessário ao corpo, quando o procurávamos para viver, e a vida não depende senão da alma.
— Intervim, dizendo: — Parece-vos que o alimento é feito unicamente para a parte do homem que vemos crescer e fortificar-se por meio dele? Foram todos dessa mesma opinião, exceto Trigésio que declarou:
— Por que, então, não chego a crescer em proporção ao meu grande apetite?
— A natureza, expliquei, fixou aos corpos a dimensão à qual pode atingir, mas sequer atingiriam essa dimensão se lhes faltasse o alimento. Constatamos facilmente esse fato nos animais. Todos sabem que os corpos vivos, sejam quais forem, definham sem o alimento.
— Definham, mas não encurtam, retorquiu Licêncio.
– Já temos o bastante para o meu propósito, concluí. Pois a questão era saber se o alimento é para o corpo. Ora, não há dúvida sobre isso, porque se for suprimido o corpo definha.
Todos aprovaram.
(Continua)
(Por Aurelius Augustinus *354 +430).