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GALÁXIA, ALFA, Brazil
Simples como a brisa, complexo como nós. Nascido em 25/5/1925.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

PRECE PARA COMPREENDER AS PALAVRAS DA SAGRADA ESCRITURA - LIVRO DÉCIMO PRIMEIRO DE CONFISSÕES

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31/10/2011 (Segunda-feira)



OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.

Concede-me que ouça e compreenda como no princípio criaste o céu e a terra.¹ Assim escreveu Moisés, assim escreveu e partiu, para passar deste mundo a Ti, e agora não o tenho diante de mim. Se aqui estivesse, eu o deteria, interrogá-lo-ia e em Teu nome pediria que me explicasse essas palavras, e prestaria ouvidos às palavras que lhe saíssem da boca. Se falasse em hebraico, em vão bateriam em meus ouvidos e nenhuma ideia me chegaria à mente. Se, porém, se exprimisse em latim, compreenderia o que me dissesse. Mas, como iria saber que estaria falando a verdade? Poderia sabê-lo por seu próprio intermédio? Não, mas dentro de mim, no íntimo recesso do meu pensamento, estaria a verdade, que não é hebraica, nem grega, nem latina, nem bárbara, e que, sem o auxílio da boca e da língua, sem os sons das sílabas, a verdade a mim diria: "Ele fala a verdade". E eu imediatamente, cheio de confiança e de certeza, diria àquele Teu servo: "Tu dizes a verdade". Mas como não posso interrogar Moisés, dirijo-me a Ti, ó Verdade, cuja plenitude ele possuía quando enunciou essas verdades. Suplico-Te, meu Deus, perdoa os meus pecados.² Tu, que concedeste àquele Teu servo dizer essas palavras, concede que eu as compreenda.


(Por Aurelius Augustinus  *354  +430)
¹ Cf. Gn 1,1.
² Cf. Jó 14,16.

domingo, 30 de outubro de 2011

AGOSTINHO QUER FAZER A MEDITAÇÃO SISTEMÁTICA DA SAGRADA ESCRITURA (IV) — LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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30/10/2011 (Domingo)



OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.

Vê, ó Meu Deus, de onde brota o meu desejo. "Os ímpios me descreveram as suas alegrias, mas elas não são como as alegrias da Tua Lei",¹ ó Senhor. Pelo contrário, na Tua Lei se inspira o meu desejo. Vê, Pai, volve o Teu olhar, vê e aprova.  Queira a Tua misericórdia que eu encontre graça junto a Ti, a fim de que me sejam revelados os significados ocultos de Tuas palavras, quando eu lhes bater à porta. Isso eu Te peço por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, "O homem da Tua destra, o filho do homem que estabeleceste² como mediador entre Ti e nós, pelO qual nos buscaste quando nós não Te buscávamos; nos buscaste para que também nós Te buscássemos. Conjuro-Te em nome deste Verbo, por quem fizeste todas as coisas, e a mim entre elas. Conjuro-Te pelo Teu Unigênito, pelo qual chamaste à adoção o povo dos crentes, entre os quais estou também eu. Conjuro-Te por aquele que "está sentado à direita de Deus e intercede por nós". ³  Nele se acham escondidos todos os tesouros "da sabedoria e do conhecimento." São estes que procuro em Teus livros. Moisés deles tratou por escrito, e os afirma. Portanto, é a Verdade quem o diz.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430)
¹ Sl 118,85.
² Sl 79,18.
³ Rm 8,34.
⁴ Cl 2,3.

sábado, 29 de outubro de 2011

AGOSTINHO QUER FAZER A MEDITAÇÃO SISTEMÁTICA DA SAGRADA ESCRITURA (III) — LIVRO DÉCIMO PRIMEIRO DE CONFISSÕES

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29/10/2011 (Sábado)



OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.

A um aceno Teu, os instantes voam. Concede-me um pouco deste tempo para as minhas meditações sobre os mistérios da Tua Lei. Não feches a porta a quem bate. Não foi em vão que quiseste fossem escritas tantas páginas cheias de mistério. Nem nessas florestas faltam servos, que nelas se refugiem e se restaurem, passeiem e pastem, se deitem e ruminem.¹ Ó Deus, completa em mim a Tua obra e revela-me estes mistérios.² Tua voz é minha alegria; Tua voz está acima de todos os prazeres. Dá-me aquilo que amo, porque amo, e foste Tu que me deste este amor. Não me abandones os Teus dons, não descuides esta Tua erva sedenta. Que eu Te exalte por tudo o que encontrar em Teus livros, que "eu escute a voz dos Teus louvores".³ Possa eu inebriar-me de Ti e contemplar "as maravilhas da Tua Lei, desde o princípio, em que criaste o céu e a Terra, até o Reino Eterno contigo na Tua Cidade Santa.

"Senhor, tem compaixão de mim e atende" o meu desejo. Não creio que seja um desejo de coisas terrenas, de ouro ou prata ou pedras preciosas, belas roupas, honras e poder ou prazeres carnais, nem tampouco de coisas necessárias ao corpo e a esta nossa vida de peregrinação, coisas essas que todas nos serão dadas em acréscimo se procurarmos o Teu Reino e a Tua Justiça.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430)
¹ Em Enarrationes in Psalmos 28, Agostinho diz que o Senhor tornará luminosas para os vencedores, representados pelos cervos, as florestas mais escuras, isto é, as passagens difíceis da Palavra divina, de maneira a podermos nelas pastar tranquilamente.
² Cf. Sl 16,15.
³ Sl 25,7.
⁴ Sl 118,18.
⁵ Cf. Mt 6,33.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

AGOSTINHO QUER FAZER A MEDITAÇÃO SISTEMÁTICA DA SAGRADA ESCRITURA ( II ) — LIVRO DÉCIMO PRIMEIRO DE CONFISSÕES

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28/10/2011 (Sexta-feira)



OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.

Senhor, meu Deus, "escuta a minha prece",¹ e que a Tua misericórdia atenda ao meu desejo, porque não é só por mim que ele arde, mas quer ser útil também ao meu amor pelos irmãos. Tu vês o meu coração e sabes que é assim. Deixa que eu ofereça em sacrifício o serviço do meu pensamento e da minha palavra, e concede-me aquilo que desejo oferecer-Te.² "Sou pobre e desvalido,³ Tu és Rico para todos os que Te invocam.⁴ "Sem cuidados por Ti mesmo, Tu cuidas de nossa existência. Tira-me da boca e do coração toda incerteza e toda mentira. Que Tuas  Escrituras sejam castas delícias para mim; que eu não me engane sobre elas, nem a outros engane com elas. Senhor meu Deus, escuta-me e tem compaixão de mim, Ó Luz dos cegos e Força dos fracos, e também Luz dos que veem e Força dos fortes, presta atenção à minha alma, ouve-a enquanto clama do abismo profundo. Se Teus ouvidos não estiverem presentes mesmo no abismo, aonde iremos? Por quem chamaremos? "O dia Te pertence, e Tua é a noite."

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430).
¹ Sl 60,2.
² Cf. Sl 65,15.
³ Sl 85,1.
⁴ Rm 10,12.
⁵ Sl 73,16.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

AGOSTINHO QUER FAZER A MEDITAÇÃO SISTEMÁTICA DA SAGRADA ESCRITURA ( I )

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27/10/2011 (Quinta-feira)

OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.




Quando conseguirei, com a linguagem da minha pena, descrever todas as exortações, todos os terrores, todas as consolações, todas as inspirações, das quais Te serviste para levar-me a pregar a Tua palavra e a dispensar ao povo os Teus sacramentos? Mesmo que eu fosse capaz de tudo expor ordenadamente, cada gota de tempo me é preciosa. De longa data desejo ardentemente meditar a Tua lei e confessar-Te o meu conhecimento e a minha ignorância sobre o assunto, os primeiros raios da Tua luz e o que resta em mim de trevas, até que a minha fraqueza seja absorvida pela Tua força. Não quero gastar noutra coisa as horas livres que me sobrarem do necessário repouso do corpo, do trabalho intelectual e do serviço que devemos aos homens ou que, mesmo não devido, ainda assim prestamos.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág.326

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

FINALIDADE DA CONFISSÃO DE AGOSTINHO A DEUS - LIVRO DÉCIMO PRIMEIRO DE CONFISSÕES

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26/10/2011 (Quarta-feira)


OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCOU, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - ART. 41. OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR PERDURAM POR SETENTA ANOS CONTADOS DE 1° DE JANEIRO DO ANO SUBSEQÜENTE AO DE SEU FALECIMENTO, OBEDECIDA A ORDEM SUCESSÓRIA DA LEI CIVIL. PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE ÀS OBRAS PÓSTUMAS O PRAZO DE PROTEÇÃO A QUE ALUDE O CAPUT DESTE ARTIGO.


Porventura, Senhor, Tu que és eterno, já não conheces o que Te digo? Não vês no tempo o que se passa no tempo? Por que motivo Te narro então tantos acontecimentos? Não é, certamente, para que os conheças por mim, mas para despertar meu amor por Ti e o amor daqueles que lerem estas páginas, a fim de que todos exclamemos: "Grande é o Senhor e digno de todos os louvores".¹ Eu o disse e repito: é por amor ao Vosso amor que escrevo estas páginas. Pois também nós oramos, e contudo a Verdade diz: "Vosso Pai sabe do que tendes necessidade, ainda antes de Lhe pedirdes".²

Portanto, quando confessamos nossas misérias e reconhecemos Tua misericórdia para conosco, manifestamos o nosso amor por Ti, a fim de que leves a termo a nossa libertação que iniciaste, e deixando de ser infelizes em nós, sejamos felizes em Ti, que nos chamaste a ter espírito de pobres, a ser mansos, plangentes, devorados pela fome e sede de justiça, misericordiosos, puros de coração e pacificadores.³ Eu Te contei muitos fatos, conforme pude e desejei. Foste Tu o primeiro a exigir de mim que me confessasse a Ti, meu Senhor e meu Deus, porque és bom e a Tua misericórdia perdura eternamente.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 325-326.
¹ Sl 47,1.
² Mt 6,8.
³ Cf. Mt 5,3-9.
⁴Cf. Sl 117,1.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

CRISTO, O ÚNICO MEDIADOR ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES.

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25/10/2011 (Terça-feira)


CAPÍTULO XLIII

OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES" JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR. É DE DOMÍNIO PÚBLICO. LEI 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil. Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.


Como nos amaste, Pai bondoso! Não poupando Teu filho único,  O entregaste por nós pecadores¹! Oh! Como nos amaste! Foi por amor a nós que Teu filho, que não considerava rapina o ser igual a Ti, submeteu-se até a morte de cruz. Ele era o único livre entre os mortos², tendo o poder de dar Sua vida e de novamente retomá-la³. Por nós se fez diante de Ti Vencedor e Vítima; e tornou-Se Vencedor porque era Vítima; por nós, diante de Ti, Se fez Sacerdote e Sacrifício, e Sacerdote porque Ele era O Sacrifício; de escravos, fez de nós Teus filhos; nascido de Ti, Se fez nosso escravo. Com razão ponho nEle a firme esperança que curarás todas as minhas enfermidades por intermédio dEle, que está sentado à Tua direita e intercede por nós junto de Ti. De outro modo desesperaria, pois são muitos e grandes meus males; porém mais poderoso é o poder do Teu remédio. Poderíamos pensar que Teu Verbo estava muito longe para se unir ao homem, e desesperar de nós, se Ele não Se tivesse feito carne, habitando entre nós.

Atemorizado por meus pecados e pelo peso de minhas misérias, meditei o projeto de fugir para o ermo; mas Tu Te opuseste e me fortaleceste dizendo: Cristo morreu por todos, para que os viventes já não vivam para si, mas por aquEle que morreu por eles.

Eis, Senhor, que lanço em Ti os cuidados da minha vida, e contemplarei as maravilhas de Tua lei. Conheces minha ignorância e minha fraqueza: ensina-me, cura-me. Teu Filho único, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência, me remiu com Seu sangue. Não me caluniem os soberbos, porque eu conheço bem o preço da minha redenção. Como o corpo e bebo o sangue da Vítima Redentora, distribuindo-a aos outros; pobre, desejo saciar-me dela em companhia daqueles que a comem e são saciados. E louvarão ao Senhor os que o buscam!

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág.254-255.
¹ Rom 8,32.
² Flp 2,6.
³ Jo 10,18
⁴ 1 Cor 5,75.
⁵SL 118,18.
⁶ Col 2,13.
⁷ SL 118,122.
⁸ SL 21,27

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CRISTO, O ÚNICO MEDIADOR - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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24/10/2011 (Segunda-feira


OS DIREITOS AUTORAIS DE "CONFISSÕES"JÁ CADUCARAM, POIS O AUTOR FALECEU NO ANO 430 DE NOSSA ERA. PORTANTO, HÁ MAIS DE SETENTA ANOS. POSSO POSTAR, VOCÊ PODE COPIAR.


CAPÍTULO XLII

O verdadeiro mediador que Tua insondável misericórdia enviou e revelou aos homens, para que aprendessem a humildade pelo Seu exemplo, é esse mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo¹. Apareceu como intermediário entre os pecadores mortais e o justo moral, mortal como os homens e justo como Deus. E, como a vida e a paz são a recompensa da justiça, pela justiça que o une a Deus Ele suprimiu a morte entre os ímpios justificados, e quis compartilhá-la com eles. Foi revelado aos santos dos antigos tempos, para que eles se salvassem pela fé em Sua paixão futura, como nós nos salvamos pela fé em Sua paixão passada. De fato, só é mediador enquanto homem; enquanto Verbo não é intermediário, por ser igual a Deus: Deus em Deus e, ao mesmo tempo, Deus único.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) 
¹ 1 Tim 2,5.

domingo, 23 de outubro de 2011

OS NEOPLATÔNICOS E O CAMINHO PARA DEUS - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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23/10/2011 (Domingo)


CAPÍTULO XLII

Poderia eu encontrar alguém que me reconciliasse Contigo? Deveria eu recorrer aos anjos? E com que orações, com que ritos? Ouvi dizer que muitos dos que se esforçavam para voltar a Ti, e que não conseguiam por si mesmos, tentaram este caminho e caíram na curiosidade de visões estranhas, recebendo por isso o justo castigo das ilusões*.

Soberbos, procuravam-Te com o coração inchado de sua ciência arrogante, e sem humildade. E atraíram para si, pela semelhança de sentimentos, os demônios do ar¹, que se fizeram cúmplices e aliados de sua soberba, e se tornaram iludidos de seus poderes mágicos. Procuravam um mediador para purificá-los, mas não o encontraram, senão ao demônio transfigurado em anjo de luz², que justamente por não possuir corpo de carne, seduziu-lhes fortemente a carne orgulhosa. Eram eles mortais e pecadores, e Tu, Senhor, com quem eles procuravam com soberba reconciliar-se, és imortal e sem pecado.

Era necessário que o mediador entre Deus e o homem tivesse alguma semelhança tanto com Deus como com os homens; pois se assemelhasse apenas aos homens, estaria muito longe de Deus; e se assemelhando só a Deus, estaria muito longe dos homens; em ambos os casos não poderia ser mediador.

E aquele falso mediador que é o demônio, a quem Teus ocultos juízos permitem que iluda a soberba, tem de comum com os homens apenas uma coisa, isto é, o pecado. Finge contudo ter algum traço em comum com Deus, e como não está revestido de carne mortal, pretende ser imortal. Mas, como a morte é o salário do pecado³, ele tem isto em comum com os homens: como eles, é condenado à morte.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág.253-254.
* Alusão aos platônicos e as suas práticas teúrgicas.
¹ Ef 2,2.
² 2Cor 11,14.
³ Rom 6,23.

sábado, 22 de outubro de 2011

DEUS E A MENTIRA - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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22/10/2011 (Sábado)


CAPÍTULO XLI

Examinei minhas fraquezas de pecador nas três formas de concupiscência, e invoquei Tua destra para me salvar. Apesar de ter coração ferido, vi Teu esplendor, e forçado a recuar, disse: "Quem pode chegar lá? Fui lançado para longe de Teus olhos¹."  -  Tu és a verdade que preside a todas as coisas. E eu, em minha avareza, não queria perder-Te, mas queria possuir ao mesmo tempo a Ti e à mentira, como os que não querem mentir ao ponto de perderem a noção de verdade. Assim Te perdi, porque não admites, em nenhum coração, conviver com a mentira.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág. 252-253.
¹ Sl 30,23.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

À PROCURA DE DEUS - LIVRO DÉCIMO DAS CON FISSÕES

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21/10/2011 (Sexta-feira)


CAPÍTULOXL

Quando deixaste de me acompanhar, ó Verdade, para me ensinar o que eu devia evitar ou procurar, sempre que Te consultei, a Ti submetendo, dentro de minha limitação, meus medíocres pontos de vista? Percorri com os sentidos, como pude, o mundo exterior. Observei a vida de meu corpo e os meus próprios sentidos. Depois adentrei nas profundezas da memória em seus múltiplos domínios, tão maravilhosamente repletos de inúmeras riquezas; observei tudo isso, estupefato. Sem Teu auxílio nada poderia distinguir, mas reconheci que nada disto eras Tu. Nem era eu o descobridor de todas essas coisas; me esforcei para distinguí-las e avaliá-las em seu devido valor, recebendo-as através dos sentidos e interrogando-as. Senti outras coisas unidas a mim, e as examinei, assim como aos sentidos que mas traziam; revolvi as vastas reservas da memória, analisando certas lembranças, guardando umas e trazendo outras à luz. Mas não era eu quem descobria todas essas coisas, e nessa pesquisa, eu, ou antes, a força pela qual eu a empreendia, não eras Tu. Porque Tu és a Luz permanente que eu consultava sobre a existência, o valor e a qualidade de todas essas coisas, e eu ouvia Teus ensinamentos e Tuas ordens. Costumo fazê-lo muitas vezes, pois essa é a minha alegria, e sempre que meus trabalhos me permitem algum descanso, refugio-me nesse prazer.


Em nenhuma dessas coisas que percorro consultando-Te, não encontro lugar seguro para minha alma senão em Ti; só em Ti se reúnem meus pensamentos esparsos, sem que nada meu se aparte de Ti. Às vezes, me fazes conhecer uma extraordinária plenitude de vida interior, de inefável doçura que, se chegasse à completação, não seria certamente compatível com esta vida. Mas torno a cair nesta baixeza, cujo peso me acabrunha; volto a ser dominado pelos meus hábitos, que me tem cativo e, apesar de minhas lágrimas, não me libertam. Tão pesado é o fardo do hábito! Não quero estar onde posso e não posso estar onde quero: miséria em ambos os casos!


(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 251-252.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O AMOR PRÓPRIO - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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20/10/2011 (Quinta-feira)


CAPÍTULO XXXIV

Há ainda em nós, profundamente assentada, outra tentação do mesmo gênero, que torna vãos aqueles que se comprazem em si mesmos, ainda que não agradem aos outros, ou até lhes desagradem, ou sequer procuram lhes agradar. E quanto mais enfatuados estejam consigo mesmos, mais desagradam a Ti, não só ao se gloriarem dos males como se fossem bens, mas sobretudo quando se gloriam de Teus bens como se fossem deles; ou quando, reconhecendo-os em si, eles os atribuem a seus merecimentos; ou ainda quando, atribuindo-os à Tua graça, eles não os gozam amigavelmente com os demais, gestando ciúmes e inveja.

Em todos estes perigos e provas, Tu vês o temor de meu coração, e sinto que são mais as feridas que curas em mim do que as que infligio a mim mesmo.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 251.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A VANGLÓRIA - (LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES)

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19/10/2011 (Quarta-feira)


CAPÍTULO XXXVIII

Sou pobre e necessitado¹, e só melhoro quando, com gemidos íntimos e com desagrado de mim mesmo, busco Tua misericórdia, até que minha inteligência seja reparada e sanada com a paz que o olho soberbo ignora! Todavia, as palavras de nossa boca, ou nossos atos conhecidos dos homens, encerram uma tentação muito perigosa, filha do amor aos louvores que, para nos iludir com certa excelência, recolhe e mendiga os aplausos alheios. A vanglória me tenta até quando a critico em mim, e é por isso mesmo que eu a desaprovo. Muitas vezes, por excesso de vaidade, há quem se glorie até mesmo do desprezo da vanglória; mas de fato não é mais do desprezo da vanglória que se orgulha, porque ninguém a despreza quando se gloria de a desprezar.

(Por Aurelius Augustinus   *354   +430) Pág. 250-251.
¹ Sl 108,22.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A TENTAÇÃO DO ORGULHO ( III ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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18/10/2011 (Terça-feira)


CAPÍTULO XXXVII

Às vezes também me entristeço com os elogios que me fazem, quando louvam em mim qualidades que me desagradam, ou quando dão muita importância a qualidades medíocres e secundárias.

Mas, repito-o, como saber se o desagrado não provém de minha repugnância pelo louvor que destoa do meu juízo a respeito de mim mesmo,  -  não que seu interesse me preocupe  -  mas pelo maior agrado que sinto quando o bem que amo em mim é amado pelos outros? De algum modo, não me considero louvado quando o elogio contradiz a opinião que tenho de mim mesmo, quer o encômio seja para o que me desagrada, quer exagerando o valor do que pouco me agrada. Serei, pois, sobre isso tudo um enigma para mim mesmo?

Mas é em Ti, ó Verdade, que percebo que devo me alegrar com os louvores que me dirigem, não em meu interesse, mas no interesse do próximo. Não sei se é este o meu caso, pois neste assunto me conheces melhor do que eu mesmo. Suplico-Te, meu Deus, que me dês a conhecer a mim mesmo, para que eu possa confessar a meus irmãos, dispostos a orar por mim, as chagas que achar em mim. Faze que me examine com mais diligência. Se for de fato o bem do próximo que me alegra quando me louvam, porque sou menos sensível ao vitupério injustamente feito a outro, do que se o fosse a mim? Porque o aguilhão da injúria me faz sofrer mais do que a injúria igualmente injusta feita a uma outra pessoa diante de mim? Acaso também ignoro isto? Deveria então concluir que me iludo, e que meu coração e minha língua burlam diante de Ti a verdade?

Afasta de mim, Senhor, esta loucura, para que minhas palavras não sejam para mim óleo de pecador para ungir minha cabeça¹.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 250
¹ Sl 140,5.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A TENTAÇÃO DO ORGULHO ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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17/10/2011 (Segunda-feira)


CAPÍTULO XXXVII

Então, Senhor, que devo confessar-Te quanto a tais tentações? Que tenho em grande apreço o louvor? Mas agrada-me mais a verdade. Pois, se tivesse que escolher entre duas situações: ser louvado pela minha loucura e por meus erros ou ser escarnecido por todos pela minha firme certeza da verdade, bem sei o que escolheria. Contudo, não gostaria que a aprovação alheia aumentasse para mim a alegria que sinto pelo pouco bem que faço. Mas tenho de Te confessar que não só o louvor a aumenta, mas também que o vitupério a diminui.

Quando me sinto perturbado por essa miséria, uma desculpa surge em mim. Só Tu sabes, Senhor, se ela é válida, porque a mim me deixa perplexo. De fato, não nos ordenaste apenas a continência, que nos ensina a afastar certas coisas de nós, mas também a justiça, que direciona nosso amor. Não quisestes que amássemos somente a Ti, mas também ao nosso próximo. Ora, às vezes me parece que é o aproveitamento e as esperanças de que o próximo dá mostra que me encantam, quando me regozijo com um elogio inteligente; e que, pelo contrário, é sua maldade que me entristece quando o ouço censurar o que ignora ou o que é bom.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 249-250.

domingo, 16 de outubro de 2011

A TENTAÇÃO DO ORGULHO ( I ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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16/10/2011 (Domingo)


CAPÍTULO XXXVII

Todos os dias acometidos por estas tentações, Senhor, somos tentados sem trégua. Os louvores dos homens são a fornalha onde todos os dias somos postos à prova. Também nisso mandas que sejamos continentes. Concede-nos o que mandas, e mandas o que quiseres.


A esse respeito, conheces os lamentos que meu coração Te dirige, e os rios de lágrimas que brotam de meus olhos. É-me difícil distinguir o quanto estou purificado dessa peste: tenho muito medo de minhas faltas ocultas, que Teus olhos conhecem, e os meus ignoram. Nos outros gêneros de tentação, tenho recursos para me examinar, mas quanto a este, quase nenhum. Posso avaliar o quanto dominei a minha alma a respeito dos prazeres da carne e das vãs curiosidades, quando me vejo privado de tais coisas por minha vontade ou por necessidade. Então me indago se é pena maior ou menor o ver-me privado desses dons.


Quanto à riqueza, ambicionada apenas para satisfazer a uma, duas ou todas as três paixões, no caso em que a alma não perceba se a despreza quando as possui, depende só dela renunciar a elas para provar seu desapego. Todavia, para nos privar dos louvores e provar nosso poder sobre eles, será talvez necessário levar uma vida má, infame, horrível, a ponto de ninguém nos conhecer sem nos detestar? Pode-se dizer ou conceber maior insanidade?


Se o louvor deve habitualmente acompanhar uma vida boa e de boas obras, não será por isso que deveremos abandonar a vida exemplar. Contudo, para distinguir se a privação de um bem me é indiferente ou penosa, é preciso que me prive desse bem.


(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág. 248-249.

sábado, 15 de outubro de 2011

O ORGULHO ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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15/10/2011 (Sábado)


CAPÍTULO XXXVI

Ora, como é necessário, para se adequar à sociedade, fazer-se amar e temer pelos homens, o inimigo de nossa verdadeira felicidade nos alicia, e por toda parte semeia seus laços gritando: "Bravo! Muito bem!" -  para que, ávidos, recolhamos as lisonjas e nos deixemos incautamente enredar. Seu intento é que deixemos de encontrar nossa alegria na verdade, para buscá-la na mentira dos homens; estimula em nós o prazer em nos fazer temer e amar, não pelo Teu amor, mas em Teu lugar. Com isso nos tornamos semelhantes a ele, não unidos na caridade, mas partilhando de suas penas. Ele quis fixar sua moradia no Aquilão*, para que nós, nas trevas e no frio, servíssemos o perverso e sinuoso imitador de Teu poder.

Nós, Senhor, somos Teu pequeno rebanho¹; sê nosso dono. Estende Tuas asas para nosso refúgio. Sê nossa glória; que nos amem por Tua causa, e que Tua palavra seja observada por nós. Quem busca o louvor dos homens, quando Tu o reprovas, não será por estes defendido quando o julgares, nem poderá se subtrair à Tua condenação. Mas quando não se louva um pecador pelos desejos de sua alma, nem se abençoa quem pratica iniquidades, mas se louva² um homem pelos dons que lhe concedeste, se ele se compraz mais no louvor do que no dom que lhe atrai os louvores, Tu o reprovas, a despeito dos louvores que recebe dos homens. E quem o louva é melhor do que é louvado, porque um se agradou com o dom de Deus, e o outro alegrou-se com o dom do homem.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 248
* Aquilão  -  vento gelado do norte.
¹ Lc 12,32.
² Sl 10,3.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O ORGULHO ( I ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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14/10/2011 (Sexta-feira)


CAPÍTULO XXXVI

Terei também essa miséria como desprezível? Haverá algo que possa restituir-me a esperança, a não ser Tua conhecida misericórdia, que começou a me transformar? Sabes o quanto já me transformaste; curaste-me primeiro da paixão da vingança, para perdoar-me também todos meus pecados, curar minhas fraquezas, resgatar minha vida da corrupção, conservar-me na piedade e misericórdia, e saciar dos Teus bens meu desejo¹. Derrubaste meu orgulho pelo temor, dobrando minha cerviz a Teu jugo. Agora eu trago o Teu jugo, e o sinto suave, como prometeste e cumpriste. Na verdade, Teu jugo já era suave, mas eu não o sabia quando receava tomá-lo sobre mim.

Mas, Senhor, Tu és o único que sabe mandar sem orgulho, porque és o único Senhor verdadeiro², que não tem Senhor! Diga-me, terá cessado em mim, se isto pode acontecer nesta vida, esta terceira espécie de tentação, que consiste em querer ser temido e amado pelos homens, com o único fim de obter uma alegria que não é alegria? Que vida miserável, que arrogância indigna! Aí está o principal motivo porque não Te amamos e tememos piamente. Por isso resistes aos soberbos, enquanto dás Tua graça aos humildes³. Trovejas contra as ambições do mundo, e faz abalar as montanhas até suas raízes.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág.247-248.
¹ Sl 102,3.
² Is 37,20.
³ 1 Pdr 5,5.
⁴ Sl 17,44.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A CURIOSIDADE ( IV ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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13/10/2011 (Quinta-feira)


CAPÍTULO XXXV

Não vou mais ao circo, para ver um cão correr atrás de uma lebre; mas, passando casualmente pelo campo e vendo algo assim, eis-me interessado pela caçada, talvez até distraindo-me de algum pensamento profundo. E, se não chega a me fazer mudar o caminho do meu cavalo, desvio o curso do meu coração. Se após tal demonstração de minha fraqueza Tu não me alertares para que abandone esse espetáculo, elevando-me a Ti por meio de alguma reflexão, ou desprezando tudo e passando adiante, ficaria ali, absorvido como um bobo.

E que dizer quando, sentado em minha casa, observo uma lagartixa à caça de moscas, ou uma aranha que as enreda em sua teia? Acaso por serem animais pequenos, a curiosidade que despertam em mim não é a mesma? É verdade que depois passo a Te louvar, Criador admirável, Ordenador do universo, mas não foi esse o pensamento que primeiro me moveu. Uma coisa é levantar-se depressa, e outra é não cair.

Dessas quedas está repleta minha vida, e minha única esperança está em Tua infinita misericórdia. Nosso coração é o receptáculo de tais misérias, e traz em si grande quantidade de vaidades, que muitas vezes até interrompem e perturbam nossas orações; e enquanto em Tua presença levantamos a voz de nossa alma até Teus ouvidos, tais pensamentos fúteis, vindos não sei de onde, vêm perturbar um ato tão importante.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 246-247.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A CURIOSIDADE ( III ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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12/10/2011 (Quarta-feira)


CAPÍTULO XXXV

Nessa imensa floresta, cheia de insídias e perigos, cortei e lancei para fora de meu coração muitos males, graças à força que me concedeste para tanto, Deus de minha salvação. Contudo, no turbilhão diário de tantas e tão variadas tentações que atormentam minha vida, quando ousarei dizer que nenhuma delas atrai mais minha atenção e não cativa minha vã curiosidade? Certamente que o teatro já não me atrai, nem me importo mais em conhecer o curso dos astros; jamais, para obter uma resposta, consultei as sombras, pois detesto todos os ritos sacrílegos.

Mas quantos artifícios inventa o inimigo para me tentar a que Te peça algum milagre, e a Ti, Senhor, meu Deus, a quem devo servir humilde e simplesmente! Eu Te suplico, por nosso Rei, por nossa pátria, a pura e casta Jerusalém, que o perigo de consentir nessas coisas, que até agora esteve longe de mim, se afaste cada vez mais! Mas quando Te peço a salvação de uma alma, a finalidade de meu intento é bem diferente: ouve-me pois, e concede-me a graça de seguir de bom grado Tua vontade.

Mas incontáveis são as pequenas e desprezíveis bagatelas que tentam cada dia nossa curiosidade! E quem poderá contar nossas quedas? Quantas vezes ouvimos contar banalidades! Toleramo-las, de inicio, para não magoar os fracos, e depois, aos poucos, ouvimo-las com atenção sempre crescente!

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág. 246.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A CURIOSIDADE ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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11/10/2011 (Terça-feira)


CAPÍTULO XXXV

Daqui podemos distinguir claramente o papel da volúpia e o da curiosidade na ação dos sentidos. O prazer procura o que é belo, melodioso, suave, saboroso, agradável ao todo; a curiosidade por sua vez deseja o contrário, não para se expor ao sofrimento, mas  pela paixão de conhecer por meio da experiência.  Que prazer pode ter na visão de um cadáver dilacerado, que causa horror! E todavia onde há um cadáver, para lá corre toda a gente para se entristecer e empalidecer. E temem depois revê-lo em sonhos, como se alguém os tivesse obrigado a contemplá-lo,  ou como se a fama de alguma beleza os tivesse atraído. O mesmo acontece com os outros sentidos, o que seria enfadonho enumerar.

É esse quê de mórbido da curiosidade que faz com que se exibam monstruosidades nos espetáculos. É ela que nos induz a perscrutar os segredos da natureza exterior, cujo conhecimento de nada serve, mas que os homens buscam conhecer apenas pelo prazer de conhecer. É ela também que inspira o homem a pesquisar, com fim semelhante, a ciência perversa, que é a arte da magia.

E é ela, enfim, que, até na religião, nos induz a tentar a Deus, pedindo-Lhe sinais e prodígios, para a salvação da alma, mas apenas pela ânsia de vê-los.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág. 245-246.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A CURIOSIDADE ( I ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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10/10/2011 (Segunda-feira)


CAPÍTULO XXXV

Às anteriores acrescente-se outra tentação, que oferece maiores perigos. Além da concupiscência da carne, que consiste no deleite voluptuoso de todos os sentidos, e cuja servidão dana os que ela afasta de Ti, insinua-se na alma um outro desejo, que se exerce pelos mesmos sentidos corporais, mas tende menos a uma satisfação carnal do que a tudo conhecer por meio da carne.

É a vã curiosidade, que se disfarça sob o nome de conhecimento e de ciência. Como nasce do apetite de tudo conhecer, e como entre os sentidos os olhos são os mais aptos para conhecimento, a Sagrada Escritura chamou-a de concupiscência dos olhos.

De fato, ver é função própria dos olhos; mas muitas vezes nós usamos esta expressão mesmo quando se trata de outros sentidos, explicados ao conhecimento. Nós não dizemos: "Ouve como isto brilha" -  nem: "Sente como isto resplandece" -  nem: "Apalpa como isto cintila" -  Para exprimir tudo isso dizemos "ver ou olhar". E até não nos limitamos a dizer: "Olha que luz!", pois apenas os olhos nos podem dar essa sensação  -  mas dizemos ainda: "Olha que som! Olha que cheiro! Olha que gosto! Olha como é duro!" Por isso toda experiência que é obra dos sentidos é chamada, como disse, concupiscência dos olhos¹.  Essa função da visão, que pertence aos olhos, é usurpada metaforicamente pelos outros sentidos, quando buscam conhecer alguma coisa.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág. 245.
¹ Jo 2,16.

domingo, 9 de outubro de 2011

O PRAZER DOS OLHOS ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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09/10/2011 (Domingo)


CAPÍTULO XXXIV

Quanto à luz corporal, de que falava, com sua doçura sedutora e perigosa, é um dos prazeres da vida para os cegos amantes do mundo. Mas os que nela sabem encontrar motivos para Te louvar, Deus, Criador de todas as coisas, convertem-na em hino em Teu louvor, sem se deixarem dominar por ela no sono. É assim que desejo ser. Resisto às seduções dos olhos, para que meus pés, que começam a trilhar Teus caminhos, não fiquem enredados. Elevo a Ti olhos invisíveis, para que libertes meus pés de seus laços¹. Tu não cessas de livrá-los, porque sempre estão a se prender. Tu não cessas de me livrar, e eu me deixo cair a cada passo nas insídias espalhadas por toda parte, porque não dormirás, nem cochilarás, Tu que guardas a Israel².

Quantos encantos os homens acrescentaram às seduções dos olhos, com a variedade de suas artes, com sua indústria de vestidos, de calçados, de vasos, de objetos de toda espécie, com pinturas e esculturas diversas que de longe ultrapassam os limites do necessário e moderado e da expressão piedosa. Exteriormente perseguem as produções de suas artes, e em seu interior abandonam Àquele que os criou, deturpando em si o que Ele fez.

Quanto a mim, meu Deus e minha glória, encontro nisto razão para cantar-Te um hino, e oferecer um sacrifício de louvor Àquele que sacrificou por mim. As belezas que da alma do artista passam para suas mãos, provém dessa beleza, que é superior às nossas almas e pela qual minha alma suspira dia e noite.

Entretanto, os que geram e os amantes das belezas exteriores, tiram da beleza soberana apenas o critério para julgá-las, mas não uma regra para usá-las bem. Contudo a norma ali está, mas eles não a veem. Se vissem, não se afastariam, e guardariam sua força para Ti³, e não dissipariam em fatigantes delícias.

Mesmo eu, que exponho e compreendo essas verdades, deixo-me enredar nessas belezas; mas Tu me livras de seu laço, Tu me libertas, porque Tua misericórdia está diante de meus olhos. Miseravelmente eu caio, e Tu me levantas misericordiosamente, às vezes sem que eu o perceba, quando minha queda foi suave, e outras inflingindo-me uma pena, por ter ficado preso ao chão.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág.243-244.
¹ Sl 24,15.
² Sl 120,4.
³ Sl 58,10.
⁴ Sl 25,3.

sábado, 8 de outubro de 2011

O PRAZER DOS OLHOS ( I ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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08/10/2011 (Sábado)


CAPÍTULO XXXIV

Resta ainda falar do prazer destes olhos carnais. Oxalá que os ouvidos fraternos e piedosos de teu templo ouvissem a minha confissão! Encerrando assim as tentações da concupiscência que ainda me perseguem, apesar de meus gemidos e dos desejos de ser revestido de meu tabernáculo, que é o céu¹.

Meus olhos apreciam as formas belas e variadas, as cores brilhantes e amenas. Oxalá elas não me acorrentassem a alma! Oxalá só fosse presa pelo Deus que criou coisas tão boas: Ele é meu bem, e não elas. Todos os dias, estando acordado, elas me importunam sem o descanso das vozes que se calam, e às vezes de tudo o que existe, quando silencia. A própria rainha das cores, a luz que inunda tudo o que vemos, e onde quer que eu esteja durante o dia, acaricia-me de mil modos, mesmo quando estou ocupado em outra coisa e não lhe dou atenção. E ela se insinua tão fortemente que, se de repente me for tirada a desejo, a procuro e, se sua ausência se prolonga, a alma se entristece.

Ó luz que Tobias contemplava quando, cego, mostrava ao filho o caminho da vida, caminhando à sua frente com os passos da caridade, sem jamais se perder! Luz que via Izaque, quando seus olhos carnais, oprimidos e velados pela velhice, mereceram não abençoar os filhos reconhecendo-os, mas reconhecê-los ao abençoá-los! Luz que via Jacó, também ele cego pela idade provecta, irradiou os fulgores de seu coração iluminado sobre as gerações do povo futuro, representadas em seus filhos! E a seus netos, os filhos de José, impôs as mãos misticamente cruzadas, não na ordem em que queria dispô-lo o pai, que via com olhos corporais, mas de acordo com seu próprio discernimento interior! Eis a verdadeira luz; ela é una, e todos os que a veem e amam formam um único ser.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág.243.
¹ 2 Cor 5,2.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

OS PRAZERES DO OUVIDO ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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07/10/2011 (Sexta-feira)


CAPÍTULO XXXIII

Outras vezes, porém, querendo exageradamente evitar este engano, peco por excessiva severidade; chego ao ponto de querer afastar de meus ouvidos, e da própria Igreja, a melodia dos suaves cânticos que habitualmente acompanham aos salmos de Davi. Nessas ocasiões parece-me que o mais seguro seria adotar o costume de Atanásio, bispo de Alexandria. Segundo me relataram, ele os mandava recitar com tão fraca inflexão da voz, que era mais uma declamação do que um canto.

Contudo, quando lembro das lágrimas que derramei ao ouvir os cantos de tua Igreja, nos primórdios de minha conversão, e que ainda agora me comovem, não tanto com o canto, mas com as letras cantadas, voz clara e modulações apropriadas, reconheço novamente a grande utilidade desse costume.

Assim, oscilo entre o perigo do prazer e a constatação dos efeitos salutares do canto. Por isso, sem emitir juízo definitivo, inclino-me a aprovar o costume de cantar na igreja, para que, pelo prazer do ouvido, a alma ainda muito fraca, se eleve aos sentimentos de piedade. E quando me comovem mais os cantos do que as palavras cantadas, confesso meu pecado e mereço penitência, e então preferiria não ouvir cantar.

Eis em que estado me encontro! Chorai comigo, e chorai por mim, vós que alimentais no coração a virtude, fonte de boas obras. Porque vós, a quem isso não afeta, sois insensíveis a tudo isso. E tu, Senhor meu Deus, escuta, olha e vê; tem piedade de mim, cura-me¹.  Eis que me tornei um problema para mim mesmo, sob teu olhar, e aí está precisamente meu mal.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág.242.
¹ Sl 12,3.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

OS PRAZERES DO OUVIDO - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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06/10/2011 (Quinta-feira)


CAPÍTULO XXXIII

Os prazeres do ouvido me prendem e subjugam com mais força, mas tu me desligaste, me libertaste.

Agradam-me ainda, eu o confesso, os cânticos que tuas palavras vivificam quando executados por voz suave e artística; todavia eles não me prendem, e dele posso me desvencilhar quando quero. Para assentarem no meu íntimo, em companhia com os pensamentos que lhes dão vida, buscam em meu coração um lugar de dignidade, mas eu me esforço para ceder-lhes só o lugar conveniente.

Às vezes parece-me tributar-lhes mais atenção do que devia: sinto que tuas palavras santas, acompanhadas do canto, me inflamam de piedade mais devota e mais ardente do que se fossem cantadas de outro modo. Sinto que as emoções da alma encontram na voz e no canto, conforme suas peculiaridades, seu modo de expressão próprio, um misterioso estímulo de  afinidades.

Mas o prazer dos sentidos, que não deveria seduzir o espírito, muitas vezes me engana. Os sentidos não se limitam a seguir, humildemente, a razão; e mesmo tendo sido admitidos graças à ela, buscam precedê-la e conduzí-la. É nisso que peco sem o sentir, embora depois o perceba.

(Por Aurelius Augustinus  *354   +430) Pág. 241-242.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

OS PRAZERES DO OLFATO - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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05/10/2011 (Quarta-feira_


CAPÍTULO XXXII

Quanto à sedução dos perfumes, não me preocupo demais. Quando ausentes, não os procuro; quando presentes, não os recuso, mas estou sempre disposto a deles me abster. Pelo menos assim me parece, embora talvez me engane. Trevas deploráveis me envolvem, que me escondem minhas faculdades reais; por isso, quando meu espírito indaga a respeito de suas forças, bem sabe que não pode confiar em si mesmo, por seu íntimo permanecer muitas vezes insondáveis, até que a experiência lho manifeste. Ninguém pois deve ter por seguro nesta vida, que é tentação perpétua. Pois, como podemos nos tornar melhores, não aconteça de nos tornar piores. Nossa única esperança, nossa única confiança, nossa firme promessa é tua misericórdia.

(Por Aurelius Auguistinus  *354   +430) Pág. 241.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A INTEMPERANÇA ( IV ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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04/10/2011 (Terça-feira)


CAPÍTULO XXXI

Sei que Noé teve permissão de comer toda espécie de carne que pudesse servir de alimento, e que Elias comeu carne para reparar as forças; sei que João Batista, asceta admirável, não se manchou com os animais  -  os gafanhotos   -  de que se alimentava. Todavia eu sei que Esaú deixou-se enganar pelo desejo de um prato de lentilhas; que Davi se repreendeu a si mesmo por ter desejado água; que nosso Rei foi submetido à tentação, não de carne, mas de pão. Por isso o povo foi justamente repreendido no deserto, não por ter desejado comer carne, mas porque o desejo o fez murmurar contra o Senhor.

Exposto a essas tentações, luto diuturnamente contra a concupiscência do comer e do beber, pois não é coisa que se possa cortar de uma vez por todas, apenas com o propósito de nunca mais recair, como fiz com a luxúria. É uma rédea imposta a meu paladar, ora para afrouxá-la, ora para retesá-la. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de fato grande, e deve engrandecer teu nome. Eu porém não sou desse número, porque sou pecador. Contudo, também engrandeço teu nome, e Aquele que venceu o mundo intercede junto a ti por meus pecados¹. Conta-me entre os membros enfermos de seu corpo, porque teus olhos viram minhas imperfeições e porque todos serão inscritos em teu livro².

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 240-241.
¹ Rom 8,34.
² SL 138,16.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A INTEMPERANÇA ( III ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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03/10/2011 (Segunda-feira)


CAPÍTULO XXXI

Ouvi ainda de ti outra palavra: "Não corras atrás de tuas concupiscências, e reprimes teus apetites¹."  -  Tua graça ainda me fez ouvir outra palavra, de que tanto gostei: "Se comemos, não termos abundância; e se não comemos, não sofrermos privação²."  - Ou seja: nem isto me fará rico, nem aquilo pobre.  -  E ouvi ainda esta outra: "Aprendi a me contentar com o que tenho: sei viver na abundância e suportar a penúria. Tudo posso naquele que me fortalece³."  -  Eis como fala o bom soldado da milícia celeste: nada parecido ao pó que somos. Mas, Senhor, lembra-te de que somos pó, e que de pó fizeste o homem; que este havia se perdido, e que foi reencontrado.

Por si mesmo, formado do mesmo pó que nós, nada podia aquele cujas palavras inspiradas tanto amei: "Tudo posso naquele que me fortalece."  -  Concede-me forças, para que eu possa. Dá-me o que mandas, e manda o que quiseres. Paulo confessa que tudo recebeu de ti, e, quando se gloria, é no Senhor que ele se gloria.

Ouvi também outro que te pedia esta graça: "Afasta de mim a intemperança."  -  De onde se conclui claramente, ó Deus santo, que dás a força de cumprir o que mandas.

"Tu me ensinas, Pai bondoso, que tudo é puro para os puros. Mas que é mau para o homem comer com escândalo; que tudo o que fizeste é bom, e que nada deve ser rejeitado do que se recebe com ação de graças; que os alimentos não nos recomendam a Deus, que ninguém nos deve julgar pela comida ou pela bebida; que o que come não deve desprezar o que não come, e que o que não come não deve julgar o que come¹⁰."  -  Por essas lições, graças e louvores te dou, meu Deus, meu Mestre, que bateste à porta de meus ouvidos e iluminaste meu coração. Livra-me de toda tentação. Não receio a impureza dos alimentos, mas a impureza do prazer.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 239-240.
¹ Eclo (?) 18,30.
² I Cor 8,8.
³ Flp 4,11.
⁴ Lc 15,24.
⁵ Flp 4,13.
⁶ I Cor 1,31.
⁷ Eclo (?) 23,6.
⁸ Rom 14,20.
⁹ I Tim 4,4.
₁₀ Col 2,16.

domingo, 2 de outubro de 2011

A INTEMPERANÇA ( II ) - LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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02/10/2011 (Domingo)


CAPÍTULO XXXI

Ora, a medida do prazer não é a mesma da saúde; o que é bastante para a saúde não o é para o prazer, e muitas vezes é difícil discernir se é o cuidado com o corpo que pede reforço de alimento, ou se é a gula que nos engana e quer ser servida. Essa incerteza alegra nossa pobre alma, feliz por ter encontrado um álibi e uma desculpa na impossibilidade de determinar o que basta para o cuidado com a saúde, e sob o pretexto da sua conservação esconde a busca do prazer. Esforço-me para resistir a essas tentações diárias, e invoco tua mão para me socorrer. A ti confesso minha incerteza, porque sobre este ponto meu juízo ainda não é firme.

Ouço a voz de meu Deus que ordena: "Não se façam pesados vossos corações com a intemperança e embriaguez¹. A embriaguez está longe de mim: que tua misericórdia não a deixe se aproximar. Mas a intemperança, ao contrário, chega às vezes a arrastar teu servo. Tua misericórdia há de afastá-la de mim, porque ninguém pode ser temperante senão por tua graça².

Muitas coisas nos concedes quando te invocamos, e todo o bem que recebemos, mesmo antes de o pedir, é a ti que sempre o devemos. E o ato mesmo de reconhecermos que esses dons são teus, é ainda graça tua. Nunca estive embriagado, mas conheci muitos, dados a esse vício, que se tornaram sóbrios por tua graça. Assim , é graças a ti que alguns não são o que nunca foram; e também é graças a ti que outros não são mais o que foram; e é graças a ti, enfim, que estes e aqueles sabem a quem devem essa graça.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág.238-239.
¹ Lc 21,34.
² Sab 8,21.

sábado, 1 de outubro de 2011

A INTEMPERANÇA ( I ) LIVRO DÉCIMO DAS CONFISSÕES

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01/10/2011 (Sábado)


CAPÍTULO XXXI

O dia me traz novo pecado, e oxalá fosse o único¹! Comendo e bebendo, restauramos as diuturnas perdas de nosso corpo, até o dia em que destruirás o alimento e o estômago, matando minha necessidade com uma maravilhosa saciedade, e revestindo este corpo corruptível de eterna incorruptibilidade².

Mas por ora esta necessidade me é grata, e luto contra essa delícia, para que não me domine; é uma guerra cotidiana que sustento com jejum, reduzindo meu corpo à escravidão³. Mas minhas dores são eliminadas pelo prazer, porque a fome e a sede são sofrimentos: queimam e matam como a febre se os alimentos não lhes põem remédio. Mas como esse remédio está sempre à nossa disposição, graças à liberdade de teus dons que põe à disposição de nossa fraqueza a terra, a água e o céu, nossas misérias recebem por nós o nome de delícias.

Tu me ensinaste a considerar os alimentos como remédios. Mas quando passo dessa penosa necessidade à paz da saciedade, nessa passagem a concupiscência arma para mim sua cilada. Esta passagem é prazerosa, e não há outra para se chegar onde a necessidade nos obriga. A razão do beber e do comer é a conservação da saúde; mas um prazer insidioso acompanha como lacaio essas funções, e sempre tenta tomar a dianteira, de modo que faço pelo prazer o que digo fazer por minha saúde.

(Por Aurelius Augustinus  *354  +430) Pág. 238.
¹ Mt 6,34.
² I Cor 15,14.
³ 2 Cor 6,5.

EU VIM AQUI PARA TE DIZER QUE

TE AMO, IRMÃO; TE AMO IRMÀ
.


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